Leite de vaca faz mal?

Leite de vaca faz mal?

O AgroSaber foi atrás de uma das pessoas quem mais sabe sobre o assunto no País para responder essa questão. Confira.

A pesquisadora Neila Richards é uma respeitada cientista brasileira que pesquisa o leite, um alimento milenar que sempre esteve presente na alimentação humana. E ela atesta com muita propriedade: “o leite de vaca não faz mal”.

Richards possui uma boa experiência para dizer isso. Ela é graduada em Engenharia de Alimentos pelo Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos (1989), tem mestrado em Ciências Agrárias pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (1996) e doutorado em Tecnologia Bioquímica Farmacêutica pela Universidade de São Paulo (2001).

Atualmente a pesquisadora comanda o Departamento de Tecnologia e Ciência dos Alimentos (2016-Atual) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

Confira alguns mitos e verdades sobre o leite que ela ajudou a esclarecer, assim faz o engenheiro agrônomo e professor da FVG, Xico Graziano. Ao citar o filósofo grego Aristóteles, um célebre pai da lógica, Graziano levanta a bandeira da segurança do alimento. “Não tem lógica dizer que o leite é um alimento do mal, porque, se fosse, não faria parte da alimentação humana.”

Nessa entrevista, Richards explica com mais detalhes por que esse alimento só traz benefícios.

AgroSaber – O leite de vaca é prejudicial ou faz mal para o ser humano?

Neila Richards – O leite de vaca não faz mal porque é um dos alimentos mais completos e nobres que existem e contém todas as proteínas e aminoácidos essenciais para uma boa nutrição. O alimento também é rico em cálcio para a formação dos ossos e dentes, e ácidos graxos que são ótimos para o fortalecimento do sistema neurológico.

AgroSaber – Por que alguns “especialistas” dizem que o leite de vaca faz mal?

Neila Richards – Por desconhecimento, pois, desde que a humanidade começou a tomar leite, os seres humanos desenvolveram enzimas capazes de metabolizar o alimento. Então carregamos essa herança de nossos ancestrais. É fato que algumas civilizações não tiveram o mesmo contato com o leite. Diferente dos europeus que tomam muito leite.

AgroSaber – Podemos tomar em qualquer idade?

Richards – Sim, podemos. O leite é essencial nas três fases de nossa vida. Da infância à adolescência, na nossa fase adulta e até na melhor idade. Ele fornece o cálcio para os nossos ossos e dentes, e é um elemento importante em todas as nossas fases.

AgroSaber – Podemos substituir o leite por outra fonte de cálcio?

Neila Richards – Sim. Um copo de leite de 250 mililitros fornece a mesma quantidade de cálcio que cinco peras, 32 couves de bruxelas ou três maços de couve. Claro que a absorção de cálcio por fontes vegetais são limitadas e aí você não absorve 100% desse nutriente. Já o cálcio do leite está 100% disponível e é um alimento muito prático para a nossa nutrição. Qual deles você acha que é melhor para tomar com café, por exemplo?

AgroSaber – Quais tipos de leite que existem?

Richards – Há dois tipos de leite e a diferença entre eles está na maior ou menor composição de duas proteínas: caseína e as proteínas do soro (albuminas e globulinas). As caseínas são proteínas mais complexas e que levam mais tempo para serem metabolizadas pelo organismo humano. As proteínas do soro são mais simples e de digestão mais rápida.

AgroSaber – Quais animais produzem cada tipo de leite?

Neila Richards – Os animais que dão leites com mais caseína (80% de caseína e 20% de albumina) são vacas, cabras, ovelhas e búfalas. Já os leites com mais proteínas do soro (80% de albumina e globulinas, e 20% de caseína) são de origem humana (leite materno), e também são produzidos pela égua, camela e burra.

AgroSaber – O leite ajuda emagrecer?

Richards – Ajuda sim e nem estou falando do leite desnatado ou semidesnatado. Pode-se tomar o leite integral em dietas, pois ele demora para ser digerido e garante maior tempo de saciedade. Isso pode contribuir para que a pessoa coma menos. Então, se está pensando em queimar calorias, pode apostar no leite integral.

AgroSaber – Quais são os tipos de processamento de leite (que existem)?

Neila Richards – São dois tipos de processamento. Temos o leite pasteurizado (de saquinho ou “barriga mole”) que pode ser padronizado ou tipo A, e o esterilizado. Cada um possui suas qualidades. O leite pasteurizado padronizado é aquele que passa por resfriamento, é coletado nas propriedades para ser processado e envasado na indústria. O tipo A é coletado, resfriado, processado e envasado na própria fazenda. No processo de pasteurização são eliminados os micro-organismos patogênicos, mas alguns lactobacilos, que são bactérias do bem, sobrevivem. O leite esterilizado, também conhecido como leite de caixinha, também é feito de leites resfriados e coletados nas fazendas pelos laticínios, no entanto, o alimento recebe um processo que altas temperaturas que mata todos os micro-organismos nocivos à saúde. Nesse processo, porém, também são eliminados os lactobacilos, micro-organismos benéficos.

AgroSaber – Mesmo sem os lactobacilos, o leite esterilizado ainda é bom para a saúde?

Neila Richards – Sim, pois é um leite que ainda mantém suas proteínas, aminoácidos, vitaminas e minerais como o cálcio, nutrientes essenciais para a nossa alimentação. É recomendado inclusive para crianças a partir dos dois anos de idade, porque não haverá risco que alguma bactéria faça mal à saúde da criança, pois sua flora intestinal ainda está em formação.

AgroSaber – Um leite esterilizado perde muitos nutrientes?

Neila Richards – Há alguma perda, sim, mas não é tão significativa. A evolução da tecnologia no processo de esterilização permitiu que a perda fosse reduzida. Antes perdia-se 15% dos nutrientes, atualmente, perde-se apenas 8%, mesmo assim, continua sendo um alimento rico em nutrientes essenciais para o ser humano.

AgroSaber – Quais as indisposições que o leite pode ocasionar nas pessoas?

Neila Richards – Há dois tipos de indisposições: a intolerância à lactose e a alergia. São problemas distintos. A intolerância refere-se a dificuldade da quebra do açúcar do leite, a lactose (formada por moléculas de glicose e galactose), pela falta da produção da enzima lactase pelo organismo. Já a alergia se refere a um efeito adverso no organismo à proteína do leite, especialmente a beta-caseína A1.

AgroSaber – Há leites especiais para esses problemas?

Richards – Sim. Há os leites zero lactose e, agora, os leites A2 que tem propriedades menos alergênicas. Mas, no caso dos leites zero lactose, é importante que somente as pessoas intolerantes consumam esse alimento.

AgroSaber – Por quê?

Richards – Porque se elas não forem intolerantes à lactose, vão acabar se tornando. Nosso organismo fabrica a enzima que ajuda a digerir o açúcar do leite. Se a lactose já vem quebrada, não tem por que o organismo fabricar. Isso pode fazer com que o organismo da pessoa não produza mais essa enzima, tornando a, de fato, intolerante ao açúcar do leite. Diabéticos precisam ter cuidado no consumo deste leite zero lactose, pois a maioria dos leites que estão no mercado a lactose é hidrolisada (quebrada) com a enzima lactase e, portanto, tem no leite: glicose, galactose e ainda um pouquinho de lactose.

AgroSaber – Para finalizar essa conversa, o leite tem hormônio?

Richards – Posso dizer com toda segurança do mundo que o leite não tem hormônio. É um mito, uma lenda. Essa história foi criada quando se utilizava um tipo de produto que auxiliava na programação de inseminação das vacas. Mas ele mais atrapalhava do que ajudava e foi banido há cerca de 30 anos. O leite é um alimento seguro, inclusive está dentro dos padrões de resíduos avaliados constantemente pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Grande parte da indústria tem se cercado para garantir um produto seguro e livre de patógenos, porque as multas são altas para quem não as cumpre. Portanto, pode beber leite à vontade.

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