Produção orgânica auditada já responde por 44,2% das propriedades certificadas no Brasil

Produção orgânica auditada já responde por 44,2% das propriedades certificadas no Brasil

A comprovação auditada por certificadoras é uma das três formas para se obter o status de produto orgânico no Brasil

A quarentena e o isolamento social, principais ferramentas para conter o avanço do novo coronavírus, forçaram a população brasileira a lidar com a comida de uma forma diferente. As refeições passaram a ser mais em casa e mesmo com as limitações de orçamento, ainda há quem busque alimentos orgânicos. Mas você saberia dizer qual alimento é ou não orgânico?

O consumidor deve ficar atento, pois há muitos produtores que se dizem orgânicos e, na realidade, não são. Uma prova disso está no próprio Censo Agropecuário de 2017 do IBGE. Na pesquisa, 64,7 mil produtores se declararam ser orgânicos.

No entanto, no relatório válido até o final deste mês de maio, 21.825 propriedades de produção orgânica estão devidamente certificadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A maioria delas por auditorias de certificadoras. Hoje são 9.641 estabelecimentos rurais auditados, 44,2% do total.

“Percebemos que há um maior interesse dos produtores pela certificação auditada”, diz Ingrid Caron Graziano, agrônoma e sócia-diretora da Organização Internacional Agropecuária (OIA) Brasil Certificações, empresa com sede em Goiânia (GO) e que certifica produtos e insumos orgânicos para agricultura e pecuária desde 2002, além de credenciar o produtor a exportação com o selo do Global GAP.

“Está caindo o estigma de que é uma alternativa cara.” Segundo ela, o custo de certificação pode alcançar um custo de R$ 2 mil por ano em média. “Mesmo para uma pequena propriedade não é um custo alto, com investimento de menos de R$ 200 por mês.”

Credenciamento orgânico

Para o consumidor, há basicamente duas maneiros de se comprovar se o alimento é ou não orgânico. Uma é pela “palavra” do produtor, ao estar vinculado a uma Organização de Controle Social (OCS), e a segunda seria pela presença de um selo. A legislação brasileira permite a uma OCS garantir que o alimento pode ser classificado como orgânico. Nesse caso, o produto é exclusivo para uma venda direta e sem identificação na embalagem.

Já os selos são emitidos por uma certificadora, que auditou o estabelecimento produtor do alimento, ou por um Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade (Opac), em geral, formado por agricultores e entidades de orgânicos que fazem uma certificação entre seus pares.

Padrão do selo de orgânicos no Brasil

Seja por OCS, seja Opac ou seja por certificadora, todas as propriedades têm de seguir os preceitos estipulados pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e serão monitorados pelo Mapa. O total das propriedades credenciadas por Opac é de 7.608 (34,9%) e 4.576 por OCS (21,0%). CLIQUE AQUI e consulte se a propriedade de onde veio seu produto é certificada como orgânica. (O arquivo é uma planilha de Excel).

Orgânico na ponta do lápis

Um alimento orgânico vem de um sistema de manejo que basicamente não utiliza fertilizantes e pesticidas sintéticos. “Muita gente não se lembra, mas uma produção orgânica também deve respeitar às leis trabalhistas e ambientais”, acrescenta Ingrid. Segundo ela a certificação auditada está não só atraindo produtores de hortaliças e frutas, mas produtores de cana-de-açúcar e grãos.

“A oportunidade para esses produtores de grãos é fornecer alimentos para cadeias de proteína animal orgânicas, que também crescem no País e no mundo”, diz Ingrid. Entre os principais benefícios de uma certificação auditada está a obediência a todos os aspectos da produção, como a comprovação do histórico da área, o uso correto de insumos próprios para a produção orgânica e máquinas exclusivas para esse tipo de manejo. “Não é um bicho de sete cabeças.”

O mercado de orgânicos está tão em alta que está trazendo mais certificadoras para atestar a produção, como o Genesis Group, com sede em Ibiporã (PR). Fundada desde 2001, a empresa realiza testes, inspeções, análises, certificações e rastreabilidade para a cadeia do agro, e desde o ano passado certifica a produção orgânica. “Este mercado cresce cerca de 20% por ano”, diz Flaviana Bim, coordenadora do setor de certificação do Genesis Group. O faturamento em 2019 foi de R$ 4,6 bilhões, segundo a Organis, entidade setorial dos orgânicos.

Passo a passo

Para dar início a certificação o produtor deve comprovar um período entre um ano e um ano e meio sem uso de insumos sintéticos. Esse processo pode ser acompanhado pela certificadora ou pelo produtor mesmo, dando provas documentais, com aval de órgãos de extensão rural de sua região.

Depois o produtor encaminha o plano de manejo orgânico que ele quer estabelecer na propriedade. “Esse é um ponto chave pois é a partir desse plano de manejo um auditor técnico fará as análises para averiguar toda a sua produção, o que ele usa, se ele faz alguma aplicação, quais os componentes utilizados”, explica Flaviana.

A avaliação de uma certificadora leva em conta cerca de 30 itens que devem ser obedecidos, inclusive uma plantação que funcionava como barreira em volta da área. “É também essencial para proteger a produção, se a propriedade for vizinha de propriedades com manejo convencional.”

Se tudo estiver certo, uma certificação fica pronta dentro de 40 a 45 dias. O credenciamento auditado inclusive ajuda o produtor até a lidar com sistema informatizado de sua produção e de seus custos. Uma certificação é válida por um ano e tem inclusa uma auditoria na propriedade a cada semestre.

Então é importante que fique claro. Não basta dizer que é orgânico. O bom mesmo é comprovar. E não adianta só confiar no visual, como a galera do Tastemade Brasil já comprovou isso na prática (confira no vídeo abaixo).

Equipe do Tastemade faz teste às cegas de alimentos convencionais e orgânicos

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