Comércio Justo: uma boa causa da agricultura brasileira
Fonte: MAPA
Os ministros da Agricultura do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e a África do Sul) estão reunidos em Bonito (MS). Este é o nono encontro dos representantes do grupo.
Em discurso de abertura do evento, a ministra Tereza Cristina (Agricultura, Pecuária e Abastecimento) defendeu regras no comércio internacional que permitam equidade entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.
“Um comércio agrícola de fato livre e justo permitiria, sem dúvida, a disseminação de melhoria das condições no campo, onde está concentrada a maior parte da pobreza no mundo. Desencadearia, ademais, outro ciclo virtuoso, em que maior produção descentralizada garantiria maior acesso a alimentação e nutrição adequadas”, disse em discurso para os colegas, reunidos no Eco Sesi Observatório Socioambiental.
A ministra reafirmou que as medidas protecionistas e subsídios adotados pelas nações desenvolvidas ameaçam o crescimento da agricultura em países com menor poder econômico.
“O protecionismo em países desenvolvidos tem ameaçado a viabilidade de uma revolução verde em países em desenvolvimento, por expô-los à competição injusta de bens subsidiados e por negar acesso a mercados consumidores importantes”.
Tereza Cristina defendeu que o comércio global deve ser regulado por princípios científicos, o que garantirá igualdade de oportunidades para as nações na produção e comercialização de alimentos.
De acordo com a ministra, quando os países deixam de se basear na ciência, colocam em risco o investimento e estímulo à inovação, recurso fundamental para o aumento da produtividade e qualidade dos alimentos fornecidos.
“À medida que alguns países desenvolvidos abandonam os princípios baseados em ciência na regulação da produção e do comércio de alimentos, não apenas o comércio justo é penalizado, mas todo o ecossistema de inovação que nos permitiria alimentar mais pessoas com o emprego de menos recursos. Ao desinformar consumidores, ceder a grupos de pressões e se afastar das regras multilaterais, certos atores importantes prejudicam os mesmos objetivos que dizem proteger: o desenvolvimento dos mais pobres; o acesso democrático a alimentos de qualidade; e a preservação do meio ambiente”.
Ministra da Agricultura, Tereza Cristina.
Foi por meio da inovação, destacou a ministra, que o Brasil tornou-se uma das maiores potências agrícolas do mundo, sendo fornecedor de alimentos para mais de 1 bilhão de pessoas.
Tereza Cristina ressaltou que o futuro demanda um setor agrícola cada vez mais produtivo com sustentabilidade. E citou as medidas que o país já vem adotando para cumprir essa meta, entre elas o Plano Agricultura de Baixo Carbono (Plano ABC), que ajuda os produtores rurais a se adaptarem às mudanças climáticas e reduz a emissão de gases de efeito estufa.
“No caso do Brasil, posso dizer que temos muito orgulho da sustentabilidade ambiental e econômica de nossa agricultura. Trabalhamos incessantemente para promover iniciativas como a recuperação de pastagens degradadas, a ampliação das áreas de plantio direto, a integração lavoura-pecuária-floresta, a adoção de técnicas de fixação biológica de nitrogênio e o uso de tecnologias de tratamento de resíduos animais”, disse.
Tereza Cristina lembrou que as conquistas alcançadas pelo Brics até o momento serão insuficientes se não mudarem a vida dos cidadãos de cada um dos países. A ministra conclamou seus colegas a assegurarem práticas globais que não comprometam a continuidade da agricultura.
“A declaração que assinaremos em breve, nossa Declaração de Bonito, terá a bandeira da promoção da inovação e das ações para aprimorar novas soluções para sistemas de produção de alimentos. Nela estão refletidos não apenas os avanços de cada um nós, mas também o avanço de nossa ambição coletiva. Destaco nosso comprometimento conjunto com a facilitação do comércio internacional e com o papel central que as regras elaboradas com fundamentação científica devem ter nesse sistema”, afirmou.
Primeiro a falar, o vice-ministro da Rússia, Sergey Levin, destacou a importância do desenvolvimento rural no país, já que várias famílias ainda buscam garantia da segurança alimentar.
O secretário do ministério indiano, B. Pradhan, informou que uma das prioridades é alcançar a segurança alimentar com sustentabilidade e que o Brics precisa aprimorar as relações entre os integrantes para chegar a esse objetivo. Atualmente, o setor agrícola é responsável por empregar 58% dos indianos.
Para o vice-ministro da China, Taolin Zhang, o Brics pode ser um importante ator na redução da pobreza mundial. Na China, a meta é zerar a pobreza até 2030.
O país defende uma reforma no comércio agrícola para ampliar a produção, melhorar a infraestrutura, promover a inovação tecnológica e conectividade. Zhang disse ainda que o Brics deve se posicionar contra o “protecionismo negativo”.
O vice-ministro da África do Sul, Mcebisi Skwatsha, ressaltou a necessidade de aprimorar a cooperação agrícola entre os países.
Segundo o representante, os sul-africanos estão comprometidos em aumentar a produção junto com sustentabilidade, priorizando carnes, grãos, frutas, legumes e vinhos. O país tenta retomar produção após enfrentar queda no volume por causa de uma estiagem severa.
A reunião em Bonito termina nesta quinta-feira (26).