Conheça o inimigo número 1 do algodão brasileiro

Conheça o inimigo número 1 do algodão brasileiro

O PIB da cadeia produtiva do algodão do Brasil é de cerca de US$ 74,11 bilhões, considerando as vendas de produtos de confecção. São cerca de 1,2 milhão de trabalhadores envolvidos nesse processo. Mas apesar de o Brasil estar entre os cinco maiores produtores mundiais e ter números grandiosos, um pequeno inimigo desafia o setor há mais de 30 anos: o bicudo-do-algodoeiro.

A origem do inseto é o México, mas, após destruir a cotonicultura dos Estados Unidos, ele chegou ao Brasil em 1983, em São Paulo. O inseto que tem o tamanho de um pequeno besouro foi uma das causas da derrocada das plantações de algodão no estado paulista, Paraná e Goiás, até então grande exportadoras de fibra. Depois disso, essas regiões nunca mais produziram como antes.

Com mandíbula afiada, também conhecida como estilete, o besouro que consegue perfurar o botão floral e a maçã dos algodoeiros, tem seu ciclo de vida completo em cerca de 20 dias e podem ocorrer de quatro a seis gerações do besouro durante uma safra. Isto significa que em uma mesma safra o bicudo-do-algodoeiro tem capacidade de gerar filhos, netos, bisnetos, tetranetos e por aí vai…

De acordo com o diretor executivo do Instituto Matogrossense do Algodão (IMAmt), Alvaro Salles, o grande problema da praga é que ela fica escondida no interior da planta e o inseticida não consegue alcançá-la.

“É bem dificil. Os grandes produtores conseguem adotar medidas mais modernas de controle, mas os pequenos não. A ação de combate requer medidas regionais uniformes, conjuntas e colaborativas. Todo mundo tem que cuidar. Se um agricultor tem problema com a praga, ele pode disseminar para os seus vizinhos”, alertou.

O produtor perde cerca de 10% de sua produtividade para o bicudo, além do custo de combate.

Alvaro Salles

Salles explica que o IMAmt realiza o monitoramento do bicudo aos inseticida utilizados. Os piretróides (inseticidas sintéticos de origem vegetal), por exemplo, tem perdido a eficiência. Eles eram muito usados para combate à essa praga.

“Embora pesquisas tenham sido feitas, ainda não foram obtidos resultados favoráveis na utilização dos defensivos biológicos, como os fungos. Estamos buscando também microorganismos com alguma proteína que controle o bicudo. A estratégia, a longo prazo, seria modificar geneticamente o algodão, inserindo uma proteína de combate ao bicudo no genoma da planta, assim o próprio algodoeiro se defenderia”, adiantou.

Produtor rural de Campo Verde, no Mato Grosso, José Lazarini, trabalha com o algodão desde 1997. Ele observou que o bicudo-do-algodoeiro começou a ter uma proporção maior a partir de 2003 e desde então só cresceu.

“Nos últimos 4 anos tem sido a principal praga do algodoeiro e a dificuldade é muito grande. Esse ano tivemos relato na nossa região de produtores que perderam até 40 arrobas de pluma prejuízo (30% da produção, isto é, cerca de R$ 4 mil). Em anos anteriores, no meio do ciclo, já tivemos relato de 50% de perda da lavoura”, disse Lazarini, lembrando que o ciclo do algodão, entre plantio e colheita do algodão, é de 180 dias.

Lazarini em sua plantação de algodão: medidas de combate fazem toda a diferença.

Lazarini, que também é consultor agronômico, explica que uma das medidas de combate ao bicudo é o vazio sanitário. O período de 60 dias sem plantio foi instituído pela Instrução Normativa Conjunta nº 001/2016, entre a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e o Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso (Indea-MT).

Nesse período, fica proibida a existência de plantas vivas de algodão no estado. O objetivo é prevenir a proliferação de pragas e doenças, em especial o bicudo-do-algodoeiro, e, consequentemente, fazer o menor uso de defensivos agrícolas na próxima safra. O descumprimento pode acarretar em multa ao produtor rural.

Fato é que em 20 anos, a produção nacional de algodão cresceu 226% e, na safra 2017/18, o Brasil colheu 2,2 milhões de toneladas de pluma, 11% da produção mundial. Isso se deve ao melhoramento genético, às constantes ações de monitoramento do bicudo, cuidados no campo e beneficiamento.