Cabra transgênica cearense está salvando vidas no País
Conheça a Gluca. Ela produz um leite que serve mais como medicamento do que alimento. Confira essa história que nasceu do agro científico brasileiro
Os anos de 2013 e 2014 marcaram o surgimento de novidades biotecnológicas nos pastos brasileiros. Lembra-se do boi transgênico da Embrapa que o AgroSaber já mencionou? Outra novidade foi o nascimento de Gluca, em março de 2014. Ela é uma cabra que foi gerada através de duas técnicas: clonagem e células transgênicas. Trata-se do primeiro caprino transgênico da América Latina.
Com esse passo, o Brasil juntou-se a um seleto grupo de quatro países que já criaram clones transgênicos de caprinos. São eles: Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia e China. A experiência saiu de um projeto de pesquisadores da Universidade de Fortaleza (Unifor) iniciado em 2011.
Mas o mais especial sobre esse animal é o fato dele produzir um leite capaz de combater a doença de Gaucher (lê-se Gochê), uma enfermidade genética rara que impede a pessoa de produzir a glucocerebrosidase. Essa é uma proteína que atua no processamento de gorduras celulares. Sem ela, as pessoas podem ter órgãos como o fígado, o baço e o sistema nervoso central comprometidos, além ser acometida por dores nos ossos. Estima-se que existam cerca de 700 pacientes em tratamento sofram desse mal no Brasil.
Do homem à cabra
O leite da cabra Gluca é rico nessa proteína e poderá servir como matéria-prima para medicamentos voltados ao tratamento da doença. Para a concepção do animal, utilizou-se material genético humano que foi transferido ao DNA da cabra. Justamente o gene responsável pela produção da proteína glucocerebrosidase. Desde que o primeiro animal foi concebido, todos os outros foram gerados a partir de clones da Gluca.
Mais cabras transgênicas
Uma outra cabra transgênica ainda mais pioneira foi criada em Fortaleza, na Universidade Estadual do Ceará (Uece), em 2008. Os animais também receberam genes de humanos. A mutação fez o mesmo efeito da Gluca. Só que do leite dessas cabras são extraídos resíduos para reforçar o sistema imunológico. A solução atende pacientes em tratamento de quimioterapia ou vulneráveis a infecções oportunistas, como a Aids.
As substâncias presentes no leite desses animais – assim como nas descendentes ou cópias da Gluca – é uma promessa para medicamentos bem mais baratos do que as opções atuais, que são produtos importados.
Cabra aranha incrivelmente falida
E se você achou surpreendente que genes humanos tenham sido transferidos para o DNA de uma cabra. Prepare-se! Em meados de 2002, cientistas canadenses da empresa Nexia Biotech criaram uma cabra transgênica capaz de produzir uma teia de aranha a partir do seu leite. Neste caso, o gene do inseto foi incorporado ao DNA do mamífero.
Como se sabe, o fio da teia de aranha é por si só uma das coisas mais incríveis do reino biológico. São fibras proteicas com 5 vezes a resistência do aço e a capacidade de esticar 5 vezes seu comprimento sem arrebentar.
A teia sintetizada pela cabra foi patenteado como BioSteel, uma fibra que seria de 7 a 10 vezes mais resistente que o aço, e capaz de esticar 20 vezes seu tamanho sem se romper e consegue resistir a temperaturas de – 20°C a 330°C.
A fibra seria “tecida” do leite da cabra. Eram estimadas 15 gramas de fio a cada litro de leite. Esse fio tinha tudo para ser uma das promessas para uma das fibras naturais mais resistentes do mundo. Infelizmente a tecnologia da Nexia, no linguajar, de ‘startup’ não escalou (não houve crescimento). A empresa faliu em 2009.
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