Algodão brasileiro perece do campo à indústria, diz Cepea

Algodão brasileiro perece do campo à indústria, diz Cepea

Nesta terceira edição de especial temático de “Coronavírus e o Agronegócio”, pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, de Piracicaba (SP), elucidam todas as recentes reações da pandemia no mercado de algodão em pluma.

Pesquisadores do Cepea indicam que, com o varejo parado, houve redução na demanda doméstica por algodão em pluma, tendo em vista que muitas indústrias também reduziram a produção e/ou paralisaram as atividades. Com menor faturamento, parte da indústria já busca renegociar títulos, e confecções pedem prorrogação para os demais elos da indústria têxtil.

Muitos vendedores da pluma, por sua vez, passaram a solicitar o pagamento de novos lotes “sobre rodas”, ou seja, no momento do embarque, antes do trânsito da carga. Para os elos compradores com dificuldade de caixa, a situação se complica ainda mais. Neste cenário, os preços internos estão enfraquecidos neste mês de abril.

Quanto aos embarques para o mercado externo, colaboradores do Cepea relataram que a logística estava normal, com agentes enviando o produto direto aos navios e/ou aos armazéns próximos ao porto. Porém, nos últimos dias, alguns clientes internacionais também pediram para adiar as entregas, como alguns da China, do Paquistão, do Vietnã, da Turquia, de Bangladesh e da Indonésia, que são os principais consumidores mundiais.

E o Brasil é um País que precisa exportar pluma. A produção brasileira é equivalente a quatro anos de consumo interno. Com isso, é necessário exportar entre 70% e 75% da oferta anual. Em 2019, o Brasil exportou 1,6 milhão de toneladas. Entre abril/19 e março/20, foram embarcadas 1,91 milhão de toneladas, um recorde para 12 meses.

Da safra 2018/19, colhida em 2019, cerca de 2/3 foram negociados até o momento. Em poucos meses, uma nova temporada equivalente deve começar a chegar ao mercado (2019/20). Desta, pouco mais de 1/3 já foi comercializado. Portanto, pode-se dizer que o mercado ainda está bem ofertado e que as quedas de preços internacionais poderão ter impactos negativos sobre a receita dos produtores/vendedores. Por enquanto, o dólar elevado mantém atrativa a exportação em detrimento do mercado interno.

Custos e rentabilidade

Para a produção de algodão, os principais itens de custos operacionais são os desembolsos com fertilizantes e inseticidas, seguidos por sementes, fungicidas, óleo diesel e mão de obra. A atual conjuntura vem elevando os custos operacionais, diante dos maiores valores relacionados aos fertilizantes e defensivos químicos, em que há necessidade de importações e, portanto, relação direta com o dólar. Os dados do Cepea mostram que os custos operacionais atuais são os maiores da história em termos nominais para os principais estados produtores (Mato Grosso e Bahia). Com custos em alta e receita em queda, as relações de troca de insumos por produtos na cultura do algodão estão piorando.

2º semestre e safra 2020/2021

Pesquisadores do Cepea explicam que, como a safra 2019/20 está em andamento, a maior parte dos custos já foi assumida e não necessariamente estará absorvendo as altas recentes. Porém, para a maior parte dos agentes que ainda não negociou vendas antecipadas – mais de 50% da produção –, poderá haver impactos negativos dos menores preços vigentes.

Enquanto os contratos futuros já efetuados mostram pouca diferença em relação aos patamares atuais, os valores futuros apontam para um cenário bastante preocupante. Já para a temporada 2020/21, o contexto é muito diferente, tendo em vista os custos em alta e os preços futuros, bem inferiores.

Isto sinaliza a importância de um bom planejamento para vendas antecipadas no mercado de algodão, que devem resultar em remuneração bem melhor que para aqueles que negociarem daqui para frente os produtos das safras 2018/19, 2019/20 e 2020/21. Entretanto, a receita – e até mesmo o custo de produção – deverá sofrer influências fortes da taxa de câmbio, sendo esta uma variável de amplas variações em curto espaço de tempo, o que impossibilita sua previsibilidade.

Confira também:
• “Coronavírus e o Agronegócio” – Volume 1 
• “Coronavírus e o Agronegócio” – Volume 2 (Impactos no PIB e no mercado de trabalho do agronegócio)

Crédito: Ascom/Mapa