“Agronegócio prega agenda da sustentabilidade”, destaca Xico Graziano
Por Xico Graziano*
A despeito do desmatamento na Amazônia, que motivou uma dura carta de investidores globais solicitando reforço da política ambiental, o moderno agronegócio brasileiro avança bem na agenda da sustentabilidade.
Prova dessa tendência foi o lançamento, nesta 3ª feira (23.jun.2020), de 1 plano de investimentos destinado a financiar projetos de agricultura sustentável, promovido pelo governo federal em parceria com a CBI (Climate Bonds Initiative).
Pode-se destacar as seguintes frentes na trajetória da agropecuária sustentável do Brasil:
- Recuperação de pastagens degradadas: tida como o maior problema da pecuária extensiva, abrangendo milhões de hectares com baixa produtividade, investimentos em correção e fertilização do solo, aliados à introdução de gramíneas adaptadas representam a maior parcela do programa de financiamento da Agricultura de Baixo Carbono (Programa ABC). Na INDC brasileira, apresentada à ONU no Acordo do Clima, consta o compromisso de recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas até 2030. As informações disponíveis na Embrapa indicam que a meta será cumprida bem antes disso.
- Bem estar animal: envolve o manejo do gado nos currais, investimentos em ambiência, sistemas de cria e desmame amigáveis, cuidados de alimentação e prevenção de doenças; a suinocultura e a avicultura já cumprem preceitos europeus nos sistemas de confinamento de animais, definidos em instruções do Ministério da Agricultura.
- Conservação do solo: a erosão era o maior problema ecológico da agricultura até os anos de 1990, quando chegou o revolucionário sistema de plantio direto na palha, que eliminou as arações e as gradações do terreno; implementado na maioria das lavouras anuais do país, no cerrado do Centro-Oeste se percebe claramente o sucesso da técnica moderna de combate à erosão dos solos.
- Proteção das matas ciliares: o cumprimento do Código Florestal levou à proteção da biodiversidade nas margens dos pequenos córregos, preservando recursos hídricos; somados com as reservas legais, 25,6% das áreas de vegetação nativa do país se encontram dentro das propriedades rurais.
- Controle biológico: pesquisas avançam nos laboratórios lançando dezenas de organismos vivos (bactérias, fungos e insetos) eficazes no manejo integrado de pragas, e biofábricas surgem impulsionadas por startups do agro; entre 2019 e 2018, as vendas no mercado de defensivos biológicos cresceram 73%, atingindo R$ 464,5 milhões.
- Integração e diversificação iLPF: os sistemas integrados de lavouras, com duas safras sequenciais, seguidas de manejo da área com gado, avançam fortemente; segundo a Rede de Fomento iLPF, uma parceria público-privada ligada à Embrapa, entre 2007 e 2016 houve um acréscimo de 342% na área plantada com sistemas integrados de produção.
- Certificação da produção: protocolos variados se expandem na produção e no comércio de alimentos, garantindo origem, boas práticas agrícolas e saudabilidade, a exemplo da RTRS (soja), GlobalGap (frutas), Bonsucro (açúcar e etanol), Rain Forest (café); a Embrapa está lançando neste ano o selo CCN (carne carbono neutro).
- Energia Limpa: a redução de custos e linhas de financiamento subsidiadas promovem a implantação de painéis fotovoltaicos, realizando a captação da energia solar nas propriedades, destinando-a para uso na irrigação.
No geral, o grande avanço tecnológico no campo, ao intensificar o uso do solo e, portanto, elevar a produtividade, está causando um tremendo efeito poupa-terra. Segundo os pesquisadores José Eustáquio Vieira e Albert Fishlow, de 1960 a 2010, nas principais lavouras o efeito poupa-terra é estimado em cerca de 129 milhões de hectares. Na pecuária, a estimativa de terra poupada estaria próximo de 646 milhões de hectares.
Conclusão: a moderna agricultura do Brasil economiza floresta e se torna cada vez mais produtiva e sustentável, o que nos credenciou a entrar no mercado financeiro garantido por títulos verdes (green bonds). Agenda positiva.
Essa agricultura tecnológica não tem nada a ver com aqueles criminosos que provocam o desmatamento na Amazônia. Mas paga o preço dessa agenda negativa. A diferença entre o joio e o trigo.
*Xico Graziano, 67, é engenheiro agrônomo e doutor em Administração. Foi deputado federal pelo PSDB e integrou o governo de São Paulo. É professor de MBA da FGV e sócio-diretor da e-PoliticsGraziano. O articulista escreve para o Poder360 semanalmente, às quartas-feiras.
Crédito: Reprodução do site Poder 360