E se… o glifosato fosse banido?
Elevação de preços de alimentos e até de proteína animal seria o mais importante impacto ao consumidor
A tarefa de alimentar milhões a partir da agricultura não é fácil. Além das adversidades climáticas e ataques de insetos e pragas, o produtor ainda tem que enfrentar as plantas daninhas, espécies que crescem junto com as plantações e podem roubar seus nutrientes. A ciência encontrou um meio de reduzir esse problema, com o uso de herbicidas, que combatem esse mal. Mas um desses produtos pode estar em xeque: o glifosato. Saiba como seria o cenário da agricultura sem a utilização desse defensivo agrícola.
Apesar de ser tão tóxico quanto o suco de limão, a Europa está prestes a banir o glifosato, segundo o engenheiro agrônomo Robson Barizon, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna (SP). “A União Europeia renovou o registro do glifosato em 2017 por cinco anos. Neste período e até 2022 serão reunidas evidências científicas para manutenção, restrição ou banimento do glifosato”, diz Barion.
Mas a eliminação do agroquímico não é uma boa notícia, na opinião do especialista. “Na eventualidade do banimento do glifosato na reavaliação em 2022, os impactos para a União Europeia serão significativos, uma vez que esta molécula é utilizada em inúmeras culturas”.
“Vale destacar que a União Europeia possui o arcabouço regulatório para pesticidas mais rigoroso em todo o mundo”, diz Barion.
Segundo ele, também são comercializadas agroquímicos que não tem registro na União Europeia em países como os Estados Unidos e demais da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), organização econômica intergovernamental formada por 37 países para estimular o progresso econômico e o comércio mundial.
“De forma geral, o Brasil acompanha as tendências regulatórias globais, onde a grande maioria dos países decidem pelo banimento de moléculas”, explica o pesquisador.
E no Brasil?
Se essa onda pegasse no País, o cenário seria até mais catastrófico do que na Europa. Isso porque, além de servir para a redução do desenvolvimento de plantas daninhas nas culturas de grãos, o produto é um dos que permitiu a principal técnica de conservação do solo, o plantio direto.
“O sistema plantio direto traz grandes benefícios para o solo e o meio ambiente, pois reduz o processo erosivo consideravelmente. Assim, o cancelamento do registro do glifosato no Brasil poderia afetar a manutenção destas práticas conservacionistas, gerando impactos consideráveis sobre o meio ambiente, como a perda da capacidade produtiva dos solos, assoreamento de rios e entre outros problemas”, destaca Barion.
Perda tecnológica e econômica
Foi a partir do glifosato que se deu um dos maiores avanços tecnológicos do campo: a obtenção de organismos geneticamente modificados (OGMs), popularmente conhecidos por transgênicos. A tecnologia é segura e conferiu à variedades de soja e milho, a resistência ao herbicida.
“O banimento do glifosato neste caso traria impactos econômicos, com aumento dos custos de produção, além de afetar toda a cadeia de produção de sementes para estas culturas”, explica o pesquisador.
Atualmente os dois grãos – soja e milho – não só servem à alimentação humana, mas também à alimentação animal, que, consequentemente, leva à produção de proteína de forma prática e barata ao País e ao mundo. Reduzir e encarecer esses produtos significa elevar também os preços das carnes bovina, suína e de aves.
Segurança comprovada
A Agência Internacional de Pesquisas em Câncer (IARC, na sigla em inglês) da Organização Mundial da Saúde (OMS) foi quem pôs em xeque o uso do glifosato no mundo. Segundo Barion, em 2015, a IARC informou que reuniu evidências, embora limitadas, da possibilidade de o produto causar câncer em humanos.
“Esta afirmação gerou vários questionamentos sobre o produto, criando uma avalanche de informações deste herbicida”, diz Barion. Segundo o pesquisador, estudos mais apurados serviram para contrapor os dados da IARC e feitos pela Agência de Proteção Ambiental (EPA), nos Estados Unidos, pelo Comitê de Especialistas FAO/OMS sobre Resíduos de Agrotóxicos (JMPR), pela agência Autoridade Australiana de Pesticidas e Medicamentos Veterinários (APVMA), pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) e pela agência canadense “Reguladora de Gerenciamento de Pragas (PMRA).
“A Agência de Proteção Ambiental (EPA), em 2020, na reavaliação do registro desta molécula, não identifica risco do glifosato à saúde humana. No Brasil, e após 12 anos de estudos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) finalizou em janeiro deste ano a reavaliação do glifosato e concluiu que a molécula não apresenta características mutagênicas ou carcinogênicas e autorizou a sua comercialização com algumas restrições, como maior controle durante a aplicação do herbicida”, diz Barion.
Histórico
O glifosato teve suas propriedades herbicidas descobertas em meados da década de 1970, por John E. Franz, químico da Monsanto, fabricante americana de agroquímicos e de biotecnologia, e que foi adquirida pela alemã Bayer.
Lançado no mercado em 1974, sob o nome comercial Roundup, o produto teve sua patente expirada no ano 2000. Atualmente, ele é produzido e vendido por vários fabricantes em todo o mundo.
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