As indefinições do Brexit e as exportações brasileiras. O que muda?
Pela terceira vez, o prazo de saída do Reino Unido da União Europeia (UE), bloco formado por 27 países-membros, foi adiado. O Brexit agora passou de 31 de outubro para 31 de janeiro de 2020. E em meio a tantas incertezas, a pergunta que fica é: será que o Brasil pode ser afetado com essa mudança já que entre 2017 e 2018 exportou quase 3 bilhões de dólares para o país? Para entender esse cenário, o Agrosaber foi perguntar para quem entende do assunto!
Não há dúvidas de que Reino Unido e Brasil são importantes parceiros comerciais, com longa e sólida relação. Dados da Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais (Secint), do Ministério da Economia, apontam que entre janeiro e setembro de 2019, o Reino Unido ocupou o 16º lugar nas exportações. E que a pauta foi composta de 25,8% de básicos, 31,2% de semimanufaturados, 42,1% de manufaturados e 0,8% de operações especiais.
Os principais produtos exportados em 2018 foram: ouro em formas semimanufaturadas (25,7%); silício (5,5%); soja mesmo triturada (5,2%); minérios de ferro e seus concentrados (5,1%); além de café cru; preparações e conservas de carne bovina e de frango; madeira compensada; motores para veículos automóveis e suas partes; móveis e suas partes.
No caso das exportações de frutas frescas, o Reino Unido responde por 15%, ocupando o segundo lugar no ranking de 2017, como mostra a tabela.
Para especialistas, os efeitos do Brexit só poderão ser avaliados quando se encerrarem as negociações.
“O acordo tem potencial para afetar o Brasil e demais membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) em algumas áreas como, por exemplo, o comércio de bens agrícolas”, explica Alexandre Lobo, subsecretário de Negociações Internacionais do Ministério da Economia, complementando que ainda existem discussões sobre os critérios para repartição entre União Europeia e Reino Unido das quotas agrícolas atualmente concedidas no âmbito OMC.
“A depender do resultado das tratativas com a UE, o Reino Unido poderá ter liberdade de adotar novos regulamentos técnicos distintos da União Europeia que precisarão ter seus efeitos avaliados”, afirma Lobo. “O resultado do Brexit, se o Brasil será beneficiado ou prejudicado, estará diretamente relacionado aos arranjos a serem feitos na OMC, no acordo MCS-UE e entre o Mercosul e o Reino Unido”, pondera.
Para a pesquisadora associada do FGV IBRE, Lia Valls, a tendencia é de que num primeiro momento os ingleses mantenham as mesmas tarifas que a UE no que diz respeitos aos acordos comerciais, no entanto, será preciso observar como o Reino Unido vai tratar os seus parceiros.
“O Reino Unido é um país protecionista na agricultura, então não vejo como isso pode prejudicar o Brasil. Já a União Europeia tem um forte perfil protecionista, puxado pelos franceses. Então, nos acordos das carnes devemos ficar mais atentos, embora ainda seja muito cedo para a gente afirmar. Mas acreditamos na tendencia de cenário positivo”, aposta.
Acordo entre Mercosul e União Europeia
Lobo destaca ainda que haverá discussão acerca dos compromissos assumidos pela UE e pelo Reino Unido no âmbito da OMC.
“O acordo entre Mercosul e União Europeia foi negociado com o Reino Unido como membro da UE e, no momento, não há clareza sobre a forma que ocorrerá a saída do Reino Unido e sua relação com o acordo entre os blocos. Qualquer alteração nos compromissos previstos no acordo estará sujeita à negociação entre os blocos”, explicou.
Histórico
O Brexit foi aprovado em votação popular em junho de 2016 e, desde então, Reino Unido e União Europeia debatem como e se devem colocá-lo em prática. Em 40 meses, as respostas ainda não foram encontradas.
Na visão dos especialistas, as perspectivas são boas, tendo em vista o histórico do Brasil em relação ao Reino Unido, no entanto, só nos resta aguardar que a saída do bloco ocorra da maneira mais harmônica possível.