Café gourmet brasileiro deixa de ser produto só para exportação
Saiba por que os melhores grãos estão sendo destinados cada vez mais ao mercado interno e como isso está transformando o consumo do brasileiro
Há alguns anos, falar em café especial era o mesmo que falar em cafés expresso ou em cápsulas. Hoje, ainda tem muita gente apaixonada por esse tipo de café, mas o leque para os afficionados pela bebida se ampliou muito. O bom e velho cafezinho de todas as manhãs viveu outras fases, passou a ser consumido o dia todo e de muitas formas diferentes. Pode se apresentar com adição de aromas e sabores de especiarias e até em alguns tipos de milkshakes. Segundo especialistas, essa tendência vai seguir firme: o café deixou de ser simplesmente uma bebida, para se transformar experiência única de sabor.
E o que torna o ato de tomar café uma experiência é a qualidade de grãos, bem tratados desde a lavoura, que está presente nas cafeterias de todo o País. “Já consumimos cafés ruins no passado”, diz o produtor e torrefador de café Hugo Wolff, dono da Wolff Café. “Isso está mudando e com a oferta de produtos de melhor qualidade, o brasileiro está passando a apreciar uma boa bebida.”
Um forte indicativo de que os melhores cafés estão circulando cada vez mais no Brasil é o fato de que vem caindo o porcentual do grão exportado diante do total produzido. Esse número despencou na última década. Em 2009, a produção brasileira de café foi de 2,4 milhões de toneladas, 72,4% disso foi enviado para fora do país. Em 2018, a produção foi recorde: 6,7 milhões de toneladas em 2018. Desse total, 51,8% foi para a exportação.
Mestres da Torra
Manter esse grão dentro do território brasileiro tem sido um dos trabalhos de Wolff desde 2015, quando inaugurou sua torrefadora na capital paulista. Ele, que também é produtor de café em Minas Gerais, se especializou em selecionar os melhores grãos para uma bebida de qualidade, que não exige a mistura com nenhum outro ingrediente, especialmente o açúcar. “O Brasil está se especializando em produzir cafés muito bons”, diz. “E isso está criando bebidas inigualáveis.”
Para instigar esses sabores, a Nestlé convidou Wolff e mais outros cinco torrefadores (Bruna Mussolini, Donierverson os Santos, Leandro Paiva, TIago de Mello e Thiago Sabino) para preparar uma safra especial durante a Semana Internacional do Café. A iniciativa, inédita, foi chamada de Torra de Autor. O evento aconteceu em Belo Horizonte (MG) no mês de novembro. A ideia era justamente difundir como esse trabalho da torra é essencial para o café atingir os maiores níveis de qualidade. “É esse processo que vai extrair o que há de melhor no café. Tudo que o grão recebeu, quando foi cultivado, poderá estar na xícara.” O grão nem precisa passar por estômago de animal nenhum — como no caso do café Kopi Luwak ou Civeta, produzido produzido a partir da coleta de grãos em fezes de uma espécie de gato herbívoro que gosta se alimentar de grãos de café. Se for de qualidade, a natureza já se encarrega, ainda no pé, dos melhores aromas. Já tomou seu café, hoje?