Falando a verdade: agrotóxico pode aumentar a incidência de câncer?
O AgroSaber entrevistou o médico e professor aposentado da Unicamp, Doutor Angelo Trapé para esclarecer sobre a ligação do uso de defensivos agrícolas a incidência de câncer.
Recentemente matérias e posts nas redes sociais levantaram dúvidas sobre a segurança desses produtos.
FATO: Não há nenhuma comprovação científica que relacione casos de câncer à utilização de agrotóxico (defensivos agrícolas).
A disseminação de fake news atribuindo casos de desenvolvimento da doença somente pelo fato da pessoa morar em área rural é, no mínimo, irresponsável. Cientificamente não é possível fazer essa associação.
A verdade é que, infelizmente, o câncer é uma doença cada vez mais comum. Coletivamente, especialistas (por exemplo, OMS, Cancer Research UK, Instituto Nacional do Câncer dos EUA) concordam que, além do envelhecimento, o estilo de vida afeta diretamente a incidência de câncer.
Os principais fatores de risco comportamentais para a doença são o tabagismo, consumo de álcool, dieta pouco saudável, obesidade, atividade física insuficiente e infecções.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que o número de novos casos de câncer aumentará em cerca de 70% nas próximas duas décadas.
“Não há nenhum estudo científico nacional ou internacional que relacione o trabalho no campo ou ingerir alimentos produzidos de maneira convencional a qualquer tipo de câncer”, afirma o médico toxicologista e professor da Unicamp, Dr. Angelo Trapé, uma das maiores autoridades no assunto no País.
Em Mato Grosso, capital tem mais incidência de câncer do que área rural
O cenário sobre o câncer não é diferente no estado de Mato Grosso, um estado com forte atuação agrícola, por exemplo.
Dados do Ministério da Saúde mostram que o número de pessoas que desenvolveram câncer em Cuiabá, capital do Estado, é maior do que no interior, onde há grande atividade rural e, por consequência, utilização de defensivos agrícolas.
Os dados deixam claro que não é possível afirmar que quem mora no campo tem maior propensão de desenvolver a doença.
Ao contrário: os hábitos de vida dos moradores dos centros urbanos contribuíram para uma maior incidência de câncer.
Estudos muito amplos de agricultores (e pessoas com acesso a defensivos agrícolas) estão em andamento nos EUA e na França.
Os resultados destes estudos até o momento mostraram que os agricultores tendem a ser mais saudáveis e têm menos câncer, em geral, quando comparado com outros grupos.
Confira como foi nossa conversa com o Dr. Angelo Trapé, da Unicamp.
É possível relacionar defensivos agrícolas com aumento de incidência de câncer?
Não há nenhum estudo científico em nível internacional e nacional que relacione o trabalho no campo ou ingerir alimentos produzidos de maneira convencional a qualquer tipo de câncer.
Ao contrário. Dados mostram que moradores de áreas rurais apresentam menor incidência da doença.
Como são conduzidos os estudos sobre o agrotóxico e câncer ao redor do mundo?
Europa, Estados Unidos, Canadá, Austrália e Japão trabalham com estudos clínico epidemiológicos em agricultores e na população consumidora de alimentos há muitos anos.
Eles também fazem a análise de risco no registro de novos produtos. Estes países utilizam a tecnologia agroquímica muito mais intensivamente do que o Brasil e sem graves registros de problemas na saúde pública.
O que é a “análise de risco”?
A análise de risco busca determinar se existe algum efeito prejudicial à saúde. Leva-se em conta aplicação de um agroquímico e a exposição do agricultor.
É preciso lembrar que RISCO é diferente de PERIGO. As tecnologias são perigosas mas o RISCO que é a probabilidade de ocorrer algum impacto à saúde de quem a usa, depende de como a tecnologia é administrada.
Um exemplo é o automóvel (tecnologia). Ao andarmos de carro corremos riscos. Mas podemos administrar esse risco ao usar cinto de segurança e andar mais devagar, por exemplo.
O mesmo acontece com os defensivos agrícolas. É possível reduzir seu risco ao utilizarmos medidas protetivas.
Que medidas são tomadas para que as pessoas não sejam expostas a defensivos agrícolas?
Atualmente os aplicadores são orientados e treinados para o uso correto e seguro dos defensivos agrícolas sempre utilizando os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual). Os agrotóxicos atuais contam com moléculas cada vez mais seguras e alvo-direcionadas o que faz a exposição ser muito pequena.