Mulheres semeiam sonhos e hortas no sudeste do Pará
Numa das regiões que mais enfrenta controvérsias pela questão ambiental, o trabalho de um grupo de mulheres simboliza a celebração deste Dia Internacional da Mulheres Rurais. Confira
O Pará, situado no meio da Floresta Amazônica, é uma das regiões do País que enfrenta controvérsias pela questão ambiental. Invariavelmente o Estado é palco de notícias de desmatamento, além da própria falta da regularização fundiária na região prejudica a imagem daqueles que vivem do agro no Estado e até os exclua de acordos de comércio importantes como o de carne bovina. Mas apesar de tudo, o Pará está se mostrando uma terra promissora, com potencial se tornar um dos grandes polos de produção de alimentos aliada à conservação ambiental. Quem está ajudando a melhorar a imagem do Estado é justamente um grupo de mulheres ao mostrar como é possível produzir alimentos e conservar a floresta.
A história serve como exemplo a ser seguido neste Dia Internacional da Mulheres Rurais, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em dezembro de 2007. A data que passou a ser celebrada em 2008 para que todos percebam como a mulher possui um papel decisivo na promoção do desenvolvimento agrícola e rural, melhorando a segurança alimentar e erradicando a pobreza rural.
É o que está fazendo um grupo de mulheres no município de Itupiranga, na porção sudeste do Pará, cerca de 600 quilômetros da capital Belém. Elas estão cultivando e fornecendo alimentos saudáveis para as famílias e demais membros de sua comunidade, além de conquistarem uma fonte de renda extra.
O que era apenas um sonho está se tornando realidade, com o apoio do projeto Tecnologias Sustentáveis para o Fortalecimento da Olericultura na Amazônia (Hortamazon), da Embrapa.
História
Em meados de 2019, após muitas tratativas e visitas de campo, e principalmente, o desejo de fazer acontecer, se formalizou um acordo de cooperação técnica entre a Embrapa Amazônia Oriental, a Prefeitura de Itupiranga e a Associação de Mulheres da Cidade e do Campo (AMCC), com apoio da Emater Pará.
A parceria visou a instalação de uma Unidade de Referência Tecnológica (URT) e vitrine tecnológica como mais uma ação do projeto Tecnologias Sustentáveis para o Fortalecimento da Olericultura na Amazônia (Hortamazon), vinculado ao Fundo Amazônia Fundo Amazônia, com operacionalização do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em cooperação com o Ministério do Meio Ambiente.
Transformação
Para Izaura Wolf Soares, 64 anos, e Lindalva Rodrigues Carvalho, 49 anos, responsáveis pela URT e pela AMCC a transferência de tecnologias para a produção foi essencial para a transformação da região. Elas explicam que a parceria trouxe conhecimentos técnicos, infraestrutura, mas também novas formas de organização partindo do respeito aos saberes tradicionais das mulheres que integram o projeto.
Isso porque entre as ações iniciais, ocorreram oficinas de valorização da ação coletiva das mulheres, para saber os sonhos, anseios que também provaram ser fundamentais para implantação da horta coletiva e a superação dos obstáculos que viriam pela frente.
Primeiros resultados
Passados quase dois anos desde os primeiros contatos com o Fundo Amazônia, a AMCC já produz hortaliças folhosas e mudas de hortaliças para comercialização e alimentação das associadas e suas famílias, além de renda, que é revertida para a manutenção da horta e demais atividades da associação na conquista e defesa do direito das mulheres.
Por meio da parceria, em parte da área de cerca de 2,7 mil metros quadrados, foram instaladas uma composteira e as estufas cobertas para a produção de mudas de folhosas. A horta pode produzir até 3 mil mudas por mês.
Dona Izaura conta que, quem vê a horta bonita e produzindo, não imagina a longa trajetória que foi preciso percorrer. Foram vários cursos de capacitação e oficinas até a descoberta da possibilidade de produção agroecológica, modo de fazer que virou marca e vocação da associação.
“Aprendemos a produzir nosso próprio adubo e biofertilizantes e com sementes selecionadas e as técnicas de melhoria de plantio, passamos a produzir mais, com mais saúde e menos custos”, afirmam Lindalva e Izaura.
Produção
A produção de hortaliças folhosas como alface, couve, coentro (cheiro-verde), cebolinha e outras, junto com a mandioca, batata-doce biofortificada e quiabo, reforçam a segurança alimentar das associadas e o excedente é comercializado. “Temos como clientes supermercados, pessoas da comunidade e horticultores da região, para quem fornecemos as mudas”, explicam as moradoras.
E como sonho e superação são o combustível dessas mulheres, elas querem mais. “Nosso sonho é aumentar a infraestrutura e ampliar as áreas de cultivo que atualmente ocupam apenas 1/3 do terreno, capacitar mais mulheres e fortalecer nossa associação”, visualizam juntas, o futuro.
Com informações da Ascom/Embrapa Amazônia Oriental