Não existe risco de intoxicação alimentar, segundo Anvisa
Entenda bem o que está por trás do estudo sobre o índice de resíduos de agroquímicos nos alimentos
Desde que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou o mais recente estudo sobre o nível de resíduos de agroquímicos nos alimentos mais presentes na mesa dos brasileiros, uma onda de informações desencontradas sobre o tema foi alardeada aos quatro cantos do País.
Mas não se preocupe, o AgroSaber vai explicar, ponto a ponto, o que se tratou efetivamente esse estudo, e, nos próximos dias, vamos elucidar as questões mais duvidosas, como, por exemplo, o real risco de intoxicação pelo consumo de alimentos. Mas já de cara, esse estudo responde isso: não existe o risco de intoxicação alimentar no País, por conta da proteção das plantações através dos defensivos agrícolas.
Essa história começa com a análise de 14 alimentos vegetais e que compõem a cesta alimentar do brasileiro: o abacaxi, a alface, o alho, o arroz, a batata-doce, a beterraba, a cenoura, o chuchu, a goiaba, a laranja, a manga, o pimentão, o tomate e a uva. A iniciativa da Anvisa serve para atestar a segurança dos alimentos e mostrar como está o nível de resíduos de agroquímicos. O estudo compõe o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para), criado em 2003.
De um grupo de 4.616 amostras, 76,8% (3.544 amostras) foram consideradas satisfatórias. Neste grupo estão os alimentos que não foram encontrados traços de defensivos ou que estão com os níveis de resíduos químicos dentro do permitido. As amostras foram coletadas em estabelecimentos varejistas de 77 municípios no País entre os anos de 2017 e 2018. Foram pesquisados até 270 agrotóxicos diferentes nas amostras analisadas.
Mas e os 23,2%?
O porcentual de amostras insatisfatórias parece até assustar – mas saiba que, nem de longe, esse índice de pode soar preocupante. Na maior parte das vezes, são consideradas amostras insatisfatórias por não pelo risco à saúde, mas por uma falha no processo da produção do alimento, ainda na fazenda. Do universo de alimentos analisados, esse porcentual representou 1.072 amostras, das quais os produtos tinham:
1) resíduos de ingredientes ativos não permitidos: 24 amostras, 0,5% do total;
2) resíduos de defensivos não permitidos para a lavoura: 798 amostras, 17,3% do total;
3) e resíduos que excediam seu limite máximo: 105 amostras, 2,3% do total.
Dentro desse grupo há também amostras que foram identificadas com mais de uma ocorrência:
4) com ingredientes ativos não permitidos e de resíduos não permitidos para a lavoura: 14 amostras, 0,3% do total;
5) com ingredientes ativos não permitidos e limites excedidos: 2 amostras, 0,0% do total;
6) com limite de resíduo excedido e de resíduos não permitidos para a lavoura: 127 amostras, 2,8% do total;
7) e por fim, amostras com os três tipos de irregularidade: 2 amostras, 0,0% do total.
O que são essas irregularidades?
Ingrediente ativo não permitido para a cultura: refere-se a um tipo de produto que não foi prescrito para o tratamento de pragas e doenças de uma determinada lavoura. Na falta de um agroquímico específico, o produtor acaba aplicando um químico que faz o controle da praga ou doença, mas de outra cultura. O problema ocorre muito em lavouras de pouca expressividade, e, por isso, que corresponde a grande parte das amostras insatisfatórias.
Ingrediente ativo proibido: refere-se um tipo de defensivo proibido ou que ainda não foi permitido para uso no Brasil.
Limite máximo de resíduo: quantidade máxima de resíduo de agrotóxico oficialmente aceita no alimento, em decorrência da aplicação adequada do agrotóxico numa fase específica, desde sua produção até o seu consumo, expresso em miligrama de resíduo por quilograma de alimento (mg/kg).
Qual o real perigo?
De acordo com o estudo da Anvisa, o dado de maior preocupação recaiu nas amostras que indicaram maior dosagem de referência aguda. Esse índice é a quantidade estimada de substância presente nos alimentos que pode ser ingerida durante um período de até 24 horas, sem oferecer risco apreciável à saúde do consumidor, expressa em miligrama de substância por quilograma de peso corpóreo (mg/kg p.c.).
Das 4.616 amostras, 0,89% (41 amostras) representaram um potencial de risco agudo à saúde. Analisando friamente esse número, o estudo conclui que é baixo o risco desses alimentos causarem efeitos adversos à saúde.