Nasce bezerro que pode revolucionar a produção brasileira de leite
Pesquisa obtém o primeiro exemplar de animal com DNA editado geneticamente e que pode gerar rebanhos que darão um leite menos alergênico
Em meados da terceira semana de janeiro, nasceu um pequeno bezerro em um dos tantos currais da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Gado de Leite. A estatal é o maior centro de pesquisa rural do Brasil. Essa unidade em questão fica em Juiz de Fora, no interior de Minas Gerais.
Até pode ser algo corriqueiro – nascer um animal num órgão de pesquisa que estuda todos os aspectos da criação desses bovinos. Mas esse nascimento pode carregar a promessa para uma produção de leite menos alergênico. Seria o animal número 1 do País.
“Em duas semanas vamos ter essa confirmação”, diz o coordenador da pesquisa, o médico veterinário Luiz Sérgio Camargo. A pesquisa segue a linha do trabalho de cientistas neozelandeses, em meados 2012, e, alguns anos depois, por uma equipe de argentina de cientistas.
Já ouviu falar em CRISPR?
Para o Brasil, esse estudo representa um grande salto para o agro brasileiro, porque os pesquisadores da Embrapa estão abrindo as portas para uma técnica nova: a edição genética. Nas rodas de conversas de cientistas, essa técnica é chamada e de CRISPR. Não se assuste. Uma hora você vai se deparar com algum texto ou alguém falando esse palavrão. E é literalmente uma palavra enorme (rs).
CRISPR vem do inglês Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats, ou seja, Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas. A técnica começou a ser estudada entre as décadas de 1990 e 2000. Trocando em miúdos o ‘tecniquês’, os cientistas descobriram um jeito de editar os genes de um organismo com a ação de algumas bactérias. A técnica comprovou que essas bactérias fazem uma tarefa de corta e cola, com grande maestria.
Essa técnica pode substituir o desenvolvimento dos chamados transgênicos – organismos geneticamente modificados (OGMs). Isso porque, nos transgênicos, é inserido um gene externo, de outra espécie. Já na CRISPR, não há inserção de genes externos. É feito apenas um rearranjo do código genético do animal ou vegetal e, por isso, esses animais ou vegetais não são considerados transgênicos.
Bezerro mutante?
“Através dessa técnica de CRISPR, promovemos uma mutação no gene”, diz Camargo. “A intenção é criar um animal que não produza a betalactoglobulina no leite, que é uma das principais proteínas alergênicas nesse alimento.” O trabalho foi encomendar à uma bactéria que, literalmente, removesse o gene responsável por essa proteína.
A pesquisa está em fase embrionária e pode ser que a técnica de CRISPR não tenha dado o resultado esperado, nesse caso do bezerro. Mas isso não significa que a pesquisa morre. Os estudos vão continuar, seguido por comprovações laboratoriais, certificação de que houve a mutação no gene do animal e se o animal mutante pode transferir essa característica aos seus descendentes. O processo é bem longo.
“Os pesquisadores argentinos, por exemplo, já identificaram o sucesso na mutação do animal”, diz o pesquisador da Embrapa. “O que falta é comprovar se leite será menos alergênico mesmo. E estamos nessa mesma, trilha”.
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