Nasceu melancia no pé de abóbora. Será que é normal?
Conheça a técnica enxertia que produz plantas “Frankenstein” para garantir mudas mais resistentes e frutas e hortaliças de altíssima qualidade
Não é fácil imaginar, mas tem muita lavoura por aí que parece inspirada no livro Frankenstein, da escritora britânica Mary Shelley. Basta olhar de perto para ver pé de abóbora que produzem pepinos e melões ou limoeiros carregados de laranjas e tangerinas.
Mas pode ficar tranquilo. Essas plantas “frankensteins” são do bem, além de serem bem mais antigas que o próprio conto britânico, e mais comuns do que você possa imaginar. Elas se originaram de uma técnica agrícola milenar chamada enxertia, utilizada desde a Idade Média, no cultivo da maçã em árvores conhecidas como plátanos.
De lá para cá, a técnica foi aprimorada e passou a ser aplicada na produção de frutas – entre elas a maçã, a laranja, a tangerina, o pêssego, a uva, o caju, o mamão, a melancia e o melão -, e hortaliças como o tomate, o pimentão, a berinjela, o pepino e a abóbora.
A técnica consiste num processo de “juntar” plantas diferentes ou variedades do mesmo vegetal para a produção de uma fruta ou legume de interesse. A planta base, com caule e raiz, é o porta-enxerto ou cavalo. Os galhos, brotos ou caules de plantas de interesse – que vão dar os frutos – serão os enxertos, também chamados de garfos ou cavaleiros. Esse processo de juntar as partes são como incisões cirúrgicas que depois são vedadas para cicatrização.
Cavalo resistente
A sacada da enxertia é utilizar uma espécie de planta mais resistente a mudanças de condições climáticas e de solo, e mais forte ao ataque de pragas e doenças do solo para ser o cavalo. Ao adicionar as plantas de interesse nele, a produção de frutas e legumes ganham um salto de produtividade, sem necessidade do controle dessas pragas.
Estudos de compatibilidade
Os cientistas tem estudado a compatibilidade entre as espécies e em alguns casos, o cavalo e o cavaleiro são da mesma planta, como nos exertos de tomate e de uva. Nesses casos, o cavalo é mais resistente do que produtivo. Uma variedade de uva (uva brava) é bem resistente mas produz pouca uva. Já outra variedade dessa planta produz mais frutas. Então, somando essas duas obtém-se uma planta mais resistente e produtiva.
Nos cultivos de citros, por exemplo, uma variedade de limão é utilizada como o cavalo da produção de laranjas. É possível, inclusive enxertar duas ou mais variedades de laranjas montadas no mesmo cavalo. A planta da abóbora é um dos cavalos que mais podem receber cavaleiros. O agro é mesmo impressionante, digno de um baita enredo de best-seller.
Confira no video abaixo como é feito um enxerto de laranja num pé de limão