O que se sabe até agora sobre a nova doença?
O AgroSaber aprofunda-se um pouco mais sobre o causador de uma das maiores crises de saúde pública já vista nos últimos tempos
Nenhum outro vírus havia mudado tanto a realidade das pessoas a nível global como o novo coronavírus. “Não é um dos mais letais, mas ele aprendeu, como nenhum outro, a se propagar entre as pessoas de forma muito rápida”, explica o biólogo Luiz Gustavo de Almeida, pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP).
Mestre e doutor em microbiologia, Almeida explica algumas curiosidades do novo coronavírus e afirma que ainda levará um tempo para a ciência compreender melhor este organismo. “A pandemia aconteceu justamente numa época em que a transmissão de informações é muito ágil”, diz o biólogo. “Tem muita coisa sendo estudada”.
Para ele, como pesquisador, o crescente número de estudos pode ser bom e ruim, ao mesmo tempo. Se por um lado há uma corrida para desvendar realmente do se trata essa doença e como é possível tratá-la, por outro, tem muitos estudos ruins sendo publicados. “Foi o que aconteceu com a cloroquina. O ‘bom’ resultado do medicamento partiu de um estudo ruim e, agora, todo mundo está achando que ela é a grande salvadora.”
O caminho para se desvendar esse vírus e sua cura está apenas começando. Por isso agora, mais do que nunca, o importante é assimilar bem as informações com toda a cautela possível. Para não se comprar gato por lebre.
Origem do vírus
Não há dúvidas quanto à sua origem geográfica. O novo coronavírus surgiu em Wuhan, capital da província da China central, onde há um grande mercado de animais vivos. Apesar disso, não foi o consumo de sopa ou espetinho exótico a causa do surgimento desse vírus. O mais provável, segundo Almeida, é que aparecimento do vírus tenha ocorrido de uma interação entre o homem e os animais silvestres daquela região. E não foi uma coisa que aconteceu de um dia para o outro. “Esse vírus teve de evoluir muito antes de causar essa pandemia”, explica Almeida. “Uma evolução que durou alguns anos.”
Por isso, o vírus pode ter se originado num animal e passado para o homem, ou do homem ao animal e infectando novamente o homem. Cientistas chineses identificaram vírus ‘parecidos’ numa espécie de morcego e no pangolim, um mamífero exótico de vivem em zonas tropicais da Ásia e África.
Apesar das evidências de infecção em animais, ainda não há como comprovar se há retransmissão deste vírus do homem aos animais de produção, como aves, suínos e bovinos. “Quando ouvimos a notícia de que uma tigresa foi testada positivo com o novo coronavírus, muitos passaram a crer que isso aconteceria com todos os animais, e, não é bem assim.”
Família coronavírus
A família coronavírus já é uma velha conhecida no mundo desde a década de 1960. Há espécies identificadas em animais e sete tipos, em humanos. Antes do SARS-CoV-2, nome científico que identifica do novo coronavírus, os mais preocupantes foram do MERS-CoV, identificado em 2012 e o SARS-CoV, 2002. Juntos essa dupla matou 1,6 mil pessoas.
O SARS-CoV-2, causador da doença Covid-19, já possui 2 milhões de casos confirmados e 131,04 mil mortes, segundo a Organização Mundial de Saúde. No Brasil, a estatística do Ministério da Saúde é de 30.425 casos e 1.924 mortes. Os dados são desesperadores? Segundo Almeida a situação é preocupante e mudará nossos hábitos daqui para a frente, mas a taxa de letalidade é baixa.
Pelos dados estatísticos apresentados até agora é 6,6%, no mundo, e de 6,3% no Brasil. A média pode chegar da 10%. O grande alvoroço do novo coronavírus é que ele aprendeu a se multiplicar antes mesmo da pessoa infectada ficar doente. “Isso não acontecia com os demais coronavírus”, diz Almeida. MERS e SARS tiveram mortes e infecções baixas porque a disseminação era mais em áreas hospitalares, quando o paciente tinha uma carga viral muito grande. “Isso garantiu maior controle da doença.”
Já o novo coronavírus se instala em vias aéreas superiores no nariz ou na boca, e de lá, dá início a sua multiplicação. Só depois ele chega ao pulmão, quando passa a causar os sintomas da doença que nem sempre são os mesmos em todos os casos, segundo o biólogo. Os principais são os espirros, coriza, febre, tosse seca e falta de ar, mas há também relatos de perda de olfato e paladar.
Longo aprendizado
“O mundo científico ainda está no escuro e isso nos fará aprender muito”, diz Almeida. O vírus é muito novo e precisa ser estudado muito bem para dar as respostas certas e a medicação mais eficiente. “A grande maioria passará e bem por essa doença. Isso é muito claro”, diz o pesquisador.
É bem possível que grande parte das respostas venha depois que a pandemia passar, assim como ocorreu em todas os demais episódios pandêmicos já registradas na história. E o homem irá conviver com mais este, assim como já convive com os vírus influenza, causadores da gripe. Acredite, isso vai passar.
O AgroSaber segue atualizando seus leitores sobre os impactos do novo coronavírus. E aí gostou da matéria? Você pode: curtir, comentar e compartilhar (os links de suas redes sociais estão logo aí abaixo)