“Os defensivos são utilizados de maneira consciente no Brasil”, diz mestre em agronomia
Engenheiro agrônomo graduado pela Universidade Federal de Viçosa, mestre em Agronomia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, e doutorando em Agronomia (Proteção de Plantas) pela mesma universidade, Roque Dias conversou com a equipe Agrosaber sobre agronomia, produção agrícola e uso de agrotóxicos.
1 – Como você compara os defensivos e a agricultura da Colômbia e dos Estados Unidos com o Brasil, após morar e estudar nesses países?
É importante destacar que para cada país verifiquei particularidades quanto ao clima e todos os seus aspectos, modo de produção, técnicas diferentes e similares de manejo agrícolas, entre outros. Logo, para cada local existem situações específicas e que elas devem ser consideradas durante todo o processo agrícola, incluindo a utilização de defensivos.
Dessa maneira, observei algumas pragas, doenças e plantas daninhas que ocorrem na Colômbia e nos Estados Unidos e não ocorrem no Brasil e vice-versa, assim, para cada caso, se a opção for o manejo químico ou a utilização de defensivos, ela é sim realizada, de maneira segura e seguindo as recomendações técnicas.
Pude destacar como no Brasil a prática da utilização de defensivos agrícolas é uma importante ferramenta e utilizada de maneira segura e consciente dentro do manejo integrado.
Dessa forma, ao meu ver visitando esses países, a utilização de defensivos é uma prática comumente utilizada e que não é realizada nem de maneira mais ou menos intensa comparada ao Brasil e sim, uma prática dentro de todo um sistema de manejo e que para cada situação ela deve considerada e estudada para uma aplicação correta e segura.
2 – Fale um pouco do trabalho que vocês desenvolvem na Unesp Botucatu em relação aos defensivos. Por exemplo, análise da molécula no solo, simulação de chuva, etc.
Nos trabalhos realizados pelo nosso grupo de pesquisa Nupam (Núcleo de Pesquisas Avançadas em Matalogia) pela Unesp Botucatu, buscamos realizar estudos que avaliem efetivamente a eficácia de uso e ação da molécula, comportamento ou dinâmica ambiental, além dos parâmetros associados à tecnologia dos defensivos.
Como exemplos: no solo, avaliamos como a molécula do herbicida se comporta perante uma quantidade simulada de chuva, tanto na folha, palha e solo depois de sua aplicação. Além disso, testamos a mesma molécula em diferentes solos com características físico-químicas distintas.
Dessa forma, com o conhecimento técnico-científico para cada situação, podemos de maneira mais efetiva conseguir entender como é a dinâmica dessa molécula e a partir disso, fazer a recomendação segura tanto no ponto de vista de eficácia quanto ambiental.
Outros exemplos: na planta, verificamos quais os parâmetros fisiológicos das plantas podem influenciar todo complexo defensivo-planta e de tecnologia de aplicação, afim de buscar, o máximo da eficiência da pulverização no quesito técnico/prático e ambiental.
3 – O que esses dados nos mostram?
Os resultados dos diversos trabalhos demonstram a importância do conhecimento científico acerca de cada molécula, de buscar entender como é sua dinâmica tanto na planta, microrganismos, e ambiental e que para cada situação há um contexto diferente e isso deve ser levado em consideração na tomada de decisão.
4 – No Brasil os defensivos são de qualidade? E são usados de forma racional?
Sim, no Brasil os defensivos são de qualidade e usados de forma racional. Acredito que precisamos desmistificar a ideia que o Brasil é o maior consumidor de defensivos agrícolas do mundo. Essa informação de consumo é pautada apenas em volume, sem considerar os aspectos importantes como o tamanho da área agrícola.
E se fizermos a relação volume consumido por área utilizada, o Brasil fica atrás de países como Japão, Coreia, Alemanha, França entre outros. Dessa forma, já mudaríamos a ideia de que o Brasil é o país que consome mais defensivos, o que de fato, não condiz com a realidade.
Outra forma de exemplificar esse uso de defensivos, seria a utilização desses dados de consumo pela produção agrícola, o que o Brasil também fica atrás de diversos países.
Outro ponto importante, é que o Brasil exporta para mais de 150 países com mercados cada vez mais exigentes e com parâmetros rigorosos de avaliação de segurança alimentar, dessa forma, se os produtos brasileiros não atingissem as condições estabelecidas por esses países, nós não estaríamos acessando esses mercados.
Assim, acredito que precisamos buscar de maneira correta a utilização e interpretação dos danos relacionados aos defensivos e entender suas particularidades.
5 – Em suas aulas, ao utilizar o guia da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), o que você costuma destacar para os alunos?
Em experiência na Docência pude participar da Disciplina Tratamento Fitossanitário, com os alunos da Agronomia, com o tema Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e utilizei o guia da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef).
Destaquei as boas práticas agrícolas com o Manual de Uso Correto e Seguro de Produtos Fitossanitários, enfatizei sobre a importância dos produtos fitossanitários em proteger as plantas do ataque de pragas, doenças e plantas daninhas, mas que podem ser perigosos se forem usados de forma errada.
E assim, pude dar orientações básicas sobre todas as etapas no uso correto e seguro, que vai desde o momento da aquisição do produto até o destino final das embalagens vazias.
6 – Mais alguma informação relevante que você queira compartilhar conosco?
Acredito que precisamos destacar a importância da agricultura no Brasil, tanto no ponto de vista econômica e social, além de poder expressar o alto potencial produtivo e diversificado que o nosso país tem em comparação aos demais. E que isso só poderá ser evidenciado com o conhecimento técnico-científico e a busca em entender e compreender as nuances relacionadas à agricultura.
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