Os mitos que rondam a agropecuária brasileira
Doutorando no programa de Zootecnia da FMVZ Unesp campus Botucatu e mestre em Produção Animal Sustentável pelo programa de pós-graduação do Instituto de Zootecnia de Nova Odessa-SP, Vinicius Carreteiro Gomes tem experiência em bovinocultura e pastagem.
Além disso, atua principalmente nas seguintes áreas: ofertas de forragem, produção de bovinos a pasto, suplementação animal, manejo de pastagem, integração lavoura-pecuária-floresta e extensão em projetos de difusão de tecnologias.
Hoje, Vinicius Carreteiro é o nosso entrevistado e vai esclarecer uma série de dúvidas e fake news sobre agropecuária, produção animal e qualidade do que é produzido no Brasil. Confira!
1 – É correto afirmar que a agropecuária brasileira é pouco eficiente e automaticamente pouco competitiva?
Não, pois somos líderes em exportação de produtos de origem animal fazendo frente com países de primeiro mundo como China, EUA e Austrália. O Brasil tem uma área de pastagens cultivadas (pastagens plantadas) de cerca de 111 milhões de hectares e detém um rebanho de 171,8 milhões de bovinos, 948 mil bubalinos [búfalos], 8,2 milhões de caprinos e 13,7 milhões de ovinos (IBGE, 2018). Esse é o maior rebanho comercial bovino do mundo e é o maior exportador de carne bovina do mundo. Com tecnologia e conhecimento visando a intensificação dos sistemas agropecuários, o Brasil consegue ser eficiente e competitivo em vista que não precisa mais abrir ou comprar terras para aumento de produção.
2 – O que é sistema integrado de produção agropecuária?
De acordo com Moore Bell, os Sistemas Integrados de Produção Agropecuária (SIPA) estão presentes em 25 milhões de km2 e respondem por cerca de metade do alimento produzido no mundo. Grande parte consumida por pessoas de baixa renda: 41% da produção do milho, 86% de arroz, 66% de sorgo, e 74% de milheto. Estes também geram a maior parte dos produtos de origem animal no mundo em desenvolvimento, ou seja, 75% do leite e 60% da carne, e empregam milhões de pessoas em fazendas, mercados formais e informais, plantas de processamento e outras partes da longa cadeia (FAO, 2009).
No Brasil, os SIPA são caracterizados por rotação anual de pastagens e culturas em um sistema de plantio direto (SPD), sendo o pasto utilizado para produção de leite ou carne. O uso de sistemas integrados tem se tornado de grande relevância na agricultura e pecuária, pois viabiliza a utilização da área o ano inteiro. A pastagem remanescente da colheita dos grãos, atua como fonte de alimento para ruminantes, trazendo benefícios como cobertura do solo, proteção contra erosões, lixiviações, ciclagem de nutrientes e formação da palhada para o SPD. A implantação de lavouras em SPD é considerada uma ferramenta-chave para o aumento da produtividade em SIPA.
Uma definição consensual de integração proposta pelos pesquisadores da Embrapa Gado de Corte, Embrapa Cerrados, Embrapa Milho e Sorgo e Embrapa Arroz e Feijão, que avaliam esses sistemas é: “Integração lavoura-pecuária” são sistemas produtivos de grãos, carne, leite, lã, e outros, realizados na mesma área, em plantio simultâneo, sequencial ou rotacionado, onde se objetiva maximizar a utilização, os ciclos biológicos das plantas, animais, e seus respectivos resíduos, aproveitar efeitos residuais de corretivos e fertilizantes, minimizar e otimizar a utilização de agroquímicos, aumentar a eficiência no uso de máquinas, equipamentos e mão-de-obra, gerar emprego e renda, melhorar as condições sociais no meio rural, diminuir impactos ao meio ambiente, visando a sustentabilidade.
Nos últimos anos, com a adoção de diversas modalidades de SIPA, tem-se notado que produtores que utilizam esses sistemas valorizam os resíduos das culturas, pois promovem ciclagem de nutrientes e melhoria do solo, reduzem os custos de produção, mantendo níveis de produtividade elevados; e ainda produzem inúmeros serviços ambientais sendo assim um sistema mais eficiente no uso dos recursos naturais.
3 – Por que ele traz benefícios?
As principais vantagens da utilização dos sistemas integrados de produção agropecuária são: melhoria dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo devido ao aumento da matéria orgânica; redução de perdas de produtividade na ocorrência de veranicos, quando associado à práticas de correção da fertilidade do solo e ao sistema de plantio direto; minimização da ocorrência doenças e plantas daninhas; aumento do bem-estar animal, em decorrência do maior conforto térmico; maior eficiência na utilização de insumos e ampliação do balanço positivo de energia; possibilidade de aplicação dos sistemas para grandes, médias e pequenas propriedades rurais; diminuição no uso de agroquímicos para controle de insetos-pragas, doenças e plantas daninhas; reconstituição do paisagismo, possibilitando atividades de agroturismo e, por fim, melhoria da imagem pública dos agricultores perante a sociedade, atrelada à conscientização ambiental.
As vantagens da adoção dos sistemas, vão ainda além dos benefícios tecnológicos, contribuindo também, de forma efetiva, para os benefícios econômicos e sociais: incremento da produção anual de alimentos a menor custo; aumento da produção anual de fibras, biocombustíveis e biomassa; aumento da competitividade das cadeias de produtos de origem animal nos mercados nacional e internacional; aumento da produtividade e da qualidade do leite e redução da sazonalidade de produção; dinamização de vários setores da economia, principalmente em nível regional; possibilidade de novos arranjos de uso da terra, com possibilidade de exploração das especialidades e habilidades dos diferentes atores (arrendatários e proprietários); redução de riscos em razão de melhorias nas condições de produção e da diversificação de atividades comerciais; fixação e maior inserção social pela geração de emprego e renda no campo; aumento da oferta de alimentos seguros; estímulo à qualificação profissional; melhoria da qualidade de vida do produtor e da sua família; estímulo à participação da sociedade civil organizada; melhoria da imagem da produção agropecuária e dos produtores brasileiros, pois concilia atividade produtiva e meio ambiente; maiores vantagens comparativas na inserção das questões ambientais nas discussões e negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) e aumento da renda dos empreendimentos rurais.
Além disso, está diretamente ligado à sustentabilidade agropecuária, uma vez que pode ser considerado tecnicamente eficiente, considerando o ambiente no qual se encontra a propriedade e utilizando manejos e insumos adequados e de acordo com as recomendações oficiais; economicamente viável, pela melhor utilização dos recursos e uso da terra, diversificação e maior estabilidade das receitas e diminuição dos riscos; socialmente aceitável, por ser aplicável a qualquer tamanho de propriedade, aumentar e distribuir melhor a renda no campo e aumentar a competitividade do agronegócio brasileiro; ambientalmente adequado, por preconizar a utilização de práticas conservacionistas e de melhor uso da terra.
4 – Agora falando um pouco de fake news, é comum ouvir que o frango tem hormônios e que esses são utilizados nas granjas para o crescimento. Essa informação procede?
Sim, infelizmente ainda vejo notícias difamatórias e até profissionais da saúde como nutricionistas espalhando esta mentira. Essa informação não procede, pois após anos de melhoramento genético hoje temos um frango que consegue um excelente desempenho (peso x tempo) e com alta conversão alimentar (come menos ração consegue conversão em mais carne), no passado um frango de granja chegava ao seu peso de abate com 55 a 60 dias e hoje apenas 42 dias. Além do que é inviável a aplicação todos os dias em uma granja de mais de mil aves. Muito mudou e avançou no conhecimento da genética e da nutrição animal trazendo assim desenvolvimento no setor avícola.
Você pode ter mais informações na associação: Zootecnistas explicam o mito do hormônio na carne de frango
5 – Existem outros mitos famosos relacionados à agropecuária? Conte pra gente quais são e qual é a verdade!
A carne bovina recebe hormônio para crescimento?
Mito, sendo que nossa legislação proíbe a utilização de doses hormonais de crescimento como é uma realidade nos EUA que os animais já são castrados desde pequenos e recebem implante via brinco que faz a liberação desses hormônios de forma lenta e ajudam no crescimento dos bovinos mais usados em sistemas de recria e engorda nos confinamentos.
A verdadeira mussarela é proveniente de leite de Búfala?
Verdade, o queijo tipo mussarela é de origem bubulina e não bovina por isso a maioria dos queijos vem escrito tipo mussarela.
O uso da cama de frango em pastagens na forma de adubo pode trazer riscos ao meu rebanho e pode ser contaminado pelo Mal da Vaca Louca?
Mito, o vírus que é alojado no cérebro dos bovinos trazendo disfunção e desorientação no animal somente é contraído e se torna um perigo quando o animal come algum produto que contenha proteína bovina. A cama de frango por lei deve ser respeitado somente o período de descanso até os animais entrarem na pastagem.
6 – O cidadão pode ficar despreocupado com relação à qualidade do que é produzido no Brasil?
O ministério da agricultura sempre está fortemente fazendo seu papel na regularização e inspeção de produtos de origem agropecuária. Devemos sempre conferir se o produto que estamos consumindo tem o selo do ministério e se foi realizada a inspeção municipal, estadual ou federal. A tendência é que a população se preocupe cada vez mais em saber a origem do alimento que elas estão consumindo. Assim vai criando um contra fluxo de exigências de mercado para atender a demanda na gôndola do supermercado e, assim, surgem certificadoras e ISOS que vão auxiliar a conquistar esse público.
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