Por que o Brasil planta tanta soja?
A oleaginosa corresponde a 49,3% de toda a safra de grãos brasileira. Saiba porque ela está mais presente na sua vida do que você imagina.
O Brasil finalmente está prestes a se tornar o maior produtor mundial de soja do mundo. Os americanos acreditam que a safra brasileira do grão deve chegar a 123 milhões de toneladas, já a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima 122,3 milhões de toneladas. Seja qual for o número, o resultado é maior do que as 96,8 milhões de toneladas da soja americana, segundo o levantamento mais recente do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda, na sigla em inglês). O Brasil pode responder por 36,4% da soja colhida no mundo.
É nessa hora que muitas pessoas param e, invariavelmente, se questionam: “para quê tanta soja, meu Deus?” E podem ir além: “Ninguém come tanta soja”, “era melhor plantar outras coisas, né” e entre outras coisas dúvidas. Mas é importante saber que, por mais que essa plantação pareça estar distante das mesas dos brasileiros ou de qualquer consumidor do mundo, saiba que a soja está mais perto da rotina das pessoas do que elas imaginam.
E mais: o grão está em plena evolução. Novos estudos de engenharia genética podem fazer com o grão seja cada vez mais nutritivo. Em uma outra frente de pesquisas avançadas, cientistas estudam como o grão pode contribuir para combater ao vírus da Aids. Conheça as cinco razões que o AgroSaber elegeu para responder, com clareza, a pergunta do título dessa matéria: “por que o Brasil planta tanta soja?”
1ª razão: Porque a soja é, literalmente, um negócio da China
O poder econômico dessa plantação não é brincadeira. Dos US$ 224,0 bilhões de toda a produção brasileira exportada em 2019, o complexo soja – formado por grão, farelo e óleo – respondeu por 14,6%. Isso significou US$ 32,6 milhões por 91,7 milhões de toneladas. Os dados pertencem aos mais recentes balanços dos ministérios da Economia e da Agricultura. Só se chega a uma cifra dessa porque há demanda, e que é encabeçada pela China. O país asiático comprou 63,5% da soja brasileira, foram 58,2 milhões de toneladas. Além dele os demais países compradores de destaque são Holanda, Tailândia, Espanha, Irã, França, Alemanha, Coreia do Sul, Indonésia, Turquia e Vietnã. Esses países compraram 23,8% da soja brasileira no ano passado.
2ª razão: Porque a soja vira proteína animal
Ninguém come diretamente a produção de 123 milhões de toneladas de soja, mas come carnes de boi, de frango e de suínos. Grande parte dessa produção é convertida em ração, que promove toda uma cadeia de produção que conecta agricultores, empresas compradoras de soja como tradings, agroindústrias e cooperativas (para processar em farelo, óleos, ração animal ou mesmo revender os grãos) e pecuaristas (compradores de ração). Esse elo monumental também ocorre na China. Por lá, os portos estão cercados por indústrias de esmagamento de soja e de ração para dinamizar o processamento de todo o grão que chega.
3ª razão: Porque a soja vira óleo que vai da cozinha ao combustível
O óleo de cozinha mais popular – o de soja – chega às mesas dos brasileiros a partir dessa cadeia. É um alimento e que está intimamente ligado à indústria alimentícia no preparo das refeições diárias. Fora da mesa, esse óleo pode virar biodiesel, um dos biocombustíveis do futuro, menos poluidor que o diesel.
4ª razão: Porque a soja movimenta mais pesquisas
Uma importante área de pesquisa está por trás da cadeia da soja, e que está nas mãos de órgãos como a Embrapa, o IAC, o Iapar e a Epamig. Esse trabalho dá suporte à produção do grão e gera oportunidades. É a partir desse fomento que surgem variedades mais saborosas de soja e com óleos mais nutritivos. Um exemplo disso foi o lançamento da soja preta, rica em antocianina, um antioxidante natural que reduz o envelhecimento das células.
5ª razão: Porque a soja pode curar a Aids
Uma pesquisa brasileira da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, com sede em Brasília (DF), conseguiu sintetizar, dentro do grão de soja de uma planta geneticamente modificada, a produção em larga escala da cianovirina, uma proteína eficaz ao combate a Aids. O estudo iniciado em 2005 e com resultados publicados em 2015, teve ainda uma parceria do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, sigla em inglês) e da Universidade de Londres. Atualmente essa proteína é retirada de algas marinhas.
Razões não faltam para desejar que a lavoura cresça mais e de forma cada vez mais eficiente. E aí, ainda com dúvidas sobre o potencial dessa plantação?