Qual a saída para o algodão brasileiro depois da crise?
A lavoura promete crescer, mas tropeça com preços baixos e custos elevados por conta da Covid-19
Uma das mais belas colheitas do agro brasileiro começa daqui a cerca de um mês no Estado de Mato Grosso e se estende até meados de junho em demais polos produtores como a Bahia, Goiás, Mato Grosso do Sul, Maranhão e Piauí. Esse é o cronograma da safra do algodão. A plantação dessa fibra natural é uma das que mais vinham crescendo no País nas últimas 4 safras. Saiu de uma área de 939,1 mil hectares, no ciclo 2016/2017, para 1,7 milhão de hectares, 2019/2020, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O crescimento foi de 78,6%.
“Se a pandemia de Covid-19 piorar é possível que a próxima safra seja menor”, afirma Milton Garbugio, produtor rural do município de Campo Verde (MT) e presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). “Ainda é cedo para dizer com exatidão quanto ela possa se reduzir. Ainda dependerá de como será efetivamente essa safra, mas o risco de queda de plantio existe.”
A cultura sofreu dois solavancos. O primeiro, com a queda dos preços do petróleo a partir de fevereiro deste ano. É do combustível fóssil que saem muitos tecidos sintéticos como o náilon, o poliéster e o acrílico, e que competem diretamente como o algodão. Mas o segundo foi o mais forte, segundo Garbugio, a queda na demanda mundial pelo algodão, por conta do fechamento de fábricas têxteis, em decorrência da pandemia da Covid-19. “A concorrência pelas fibras sintéticas sempre existiu, mas o que mais pesou foi a doença.”
Preços em queda
Apesar do aumento de cerca de 4% dos preços da pluma de algodão, na comparação da semana de 20 a 24 de abril com a semana de 13 a 17 de abril, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), em Cuiabá (MT), os preços ainda estão baixos e nem chegam a cobrir os custos produção da lavoura. “Estão, em média, 18% abaixo do preço mínimo para cobrir o investimento feito pelo produtor”, diz Garbugio.
Para ajudar o produtor a enfrentar esse período de preços baixos, a Abrapa apresentou uma série de medidas ao governo federal. Entre elas estão a revisão da política de preços mínimos para o algodão e uma linha de crédito para ajudar o produtor durante a liquidação de seus estoques de algodão. “O produtor é hoje o maior investidor do País e está fazendo todo o possível para se manter de pé”, diz Garbugio.
Campo bem florido
As plantas estão bem meio de época de floração. E, ao que tudo indica, segundo a avaliação da própria Conab, a safra será boa. O clima e a chuva vão ajudar o Brasil a colher mais que o ano passado. A safra de 2,9 milhões de toneladas será 3,7% maior que a da temporada passada. O Brasil é o quarto maior produtor de algodão no mundo, logo atrás da Índia, da China e dos Estados Unidos.
Mesmo com a crise, o algodão deve ser a quarta lavoura que mais trará dinheiro à economia brasileira. O Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) estima um faturamento de cerca de R$ 42,03 bilhões. O levantamento faz parte do cálculo do Valor Bruto da Produção (VBP) da agropecuária. Este índice mostra a evolução do desempenho do agro brasileiro ao longo do ano e corresponde ao faturamento bruto dentro dos estabelecimentos rurais.
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