Quanto mais abelhas, maior é a produção de soja

Quanto mais abelhas, maior é a produção de soja

Nesse dia 20 de maio, Dia Mundial das Abelhas, o AgroSaber mostra como boas práticas no agro favorecem a produção agrícola

A agricultura é responsável por mortes de abelhas? A questão é polêmica e é alvo de inúmeras discussões no Brasil e no mundo, e dominam a cena hoje, quando é celebrado o Dia Mundial das Abelhas. Afinal, como produzir alimentos sustentavelmente e manter sadios os enxames, vitais para a existência da própria humanidade? A ciência do agro pode dar essas respostas, e vai além, mostrando que a produção de soja cresce quando há mais abelhas visitando as lavouras.

O engenheiro agrônomo Décio Gazzoni, pesquisador da Embrapa Soja, em Londrina (PR), tem estudado métodos que podem trazer equilíbrio tanto à soja como para as abelhas. Os primeiros resultados desse estudo estão na publicação “Soja e abelhas”, lançada em 2017, com versões em inglês e espanhol. Clique aqui para acessá-la.

Um fato muito curioso que Gazzoni identificou: quanto maior for o enxame que visita as plantações, recolhendo o néctar das flores da planta de soja, maior será a produção da lavoura.

“Normalmente a vagem da soja tem dois grãos. Eventualmente três, no entanto, o que nós temos observado é que com a eficácia da polinização das abelhas, o número de vagens com três grãos se torna mais frequente, e começam aparecer vagens com quatro grãos”, explicou o pesquisador ao portal Notícias Agrícolas.

Manejo adequado

Esse incremento de até 100% na produção de soja pode ser obtido com técnicas simples, como:

  • Identificar criações de abelhas por parte do agricultor em sua região;
  • Manter contato direto entre produtores e apicultores para coordenar horários de aplicação de defensivo na lavoura para garantir que as abelhas já estejam recolhidas nas colméias.

“As abelhas só visitam os cultivos quando tem flores no cultivo da soja. O período de florescimento dura em torno de 20 dias. Nesse período, normalmente, planta não está tão suscetível ao ataque de insetos, então, é possível atravessar essas três semanas sem nenhuma aplicação de inseticida”, explica Gazzoni.

Causas de mortes

Ao AgroSaber, numa conversa com o engenheiro agrônomo e doutor em Administração, Xico Graziano, Gazzoni pondera que o mau manejo com pesticidas no agro pode levar a morte dos insetos, mas não é o único fator. Ainda há problemas como a perda de habitat por redução de florestas, por mudança do uso de terras não só causadas pela agricultura, mas por expansão de cidades e construções de estradas e ferrovias, por exemplo. Ainda podem estar ligados às causas de morte das abelhas a poluição, o ataque de outros insetos, doenças e perda de base genética.

ENTREVISTA: Gazzoni fala sobre a origem da soja no Brasil e o seu trabalho no estudo com as abelhas

“Temos coisas importantes a serem levadas em consideração. Uma é a legislação florestal brasileira, com o Código Florestal, e a outra é o nosso patrimônio de matas nativas que compõe 66% do território brasileiro, e que está preservado da forma como Pedro Álvares Cabral o encontrou. O Brasil é um santuário para as abelhas e polinizadores. Nenhum outro país pode dizer o mesmo. Nós temos de valorizar essas coisas”, afirma Gazzoni.

Curiosidades das abelhas

O Dia Mundial das Abelhas foi estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU), em dezembro de 2017 e é comemorado todo dia 20 de maio desde 2018. O dia escolhido foi uma homenagem ao esloveno Anton Janša, nascido em 1734 e considerado o pioneiro da apicultura moderna.

A abelha mais popular é a Apis mellifera (abelha melífera, europeia, do mel ou africanizada), famosa pelo ferrão e sua picada dolorida, e também por estar em todo o Brasil e por produzir a maior parte do mel que consumimos. Mas ela é apenas uma das cerca de 20 mil espécies existentes no mundo — no Brasil, já foram descritas 1.678 espécies de abelha, porém os cientistas calculam que existam mais de 2.500 espécies, uma das maiores diversidades do planeta.

Os insetos têm importância fundamental para o meio ambiente e para a produção agrícola. Elas são as maiores responsáveis pela polinização, um serviço ecossistêmico essencial para a reprodução e a manutenção da diversidade de espécies de plantas, além da produção de alimentos para humanos e outros animais.

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