Sabia que o sal é mais perigoso à saúde que o glifosato?
Composto químico mais utilizado nas lavouras do mundo é apontado como o grande vilão, mas a ciência prova que na dose certa, é um produto muito seguro e necessário, diz a bióloga Natália Pasternak Taschner, da USP.
Imagine um copo cheio de sal e outro cheio de glifosato, defensivo químico mais utilizado no mundo. Se alguém tivesse de tomar um desses copos qual seria mais prejudicial para a saúde? Errou quem disse que seria glifosato, pois o sal seria mais tóxico. Numa tabela do nível de toxicidade, o glifosato está no mesmo patamar do ácido cítrico presente em limões e laranjas e do álcool do vinho ou da cachaça. Ambos são considerados levemente tóxicos.
Logo depois vem o bicarbonato de sódio, o cloreto de sódio (o bom e velho sal de cozinha) e a teobromina, muito presente no chocolate – esses produtos são considerados moderadamente tóxicos. Já a cafeína é considerada muito tóxica. E a nicotina, extremamente tóxica.
“Esse é um exemplo que desmistifica a fama de vilão do glifosato”, explica a bióloga paulistana Natalia Pasternak Taschner, pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e presidente do Instituto Questão de Ciência. “Tudo é uma questão da dose. Ninguém consome tanto sal todos os dias. E a dose de glifosato aplicada nas plantações é adequada para garantir a segurança dos alimentos.”
A bióloga, defensora da ciência contra a forte onda de fake news, publicou um artigo para desmistificar os temores contra o herbicida mais popular de todos os tempos. “As pessoas têm acreditado numa onda de naturalismo contra formulações sintéticas, mas nem sempre os naturais são menos tóxicos, por exemplo”, avalia.
Se ingerida a toxina da bactéria de solo, conhecida cientificamente por Clostridium botulinum, pode causar muito mal à saúde de uma pessoa. Em contrapartida, em doses menores, a toxina não faz mal algum e ainda serve de base do tratamento antirrugas, o famoso botox. “Portanto, qualquer coisa pode ser muito segura ou letal, dependendo da sua dose”, diz Natalia.
Glifosato ou café
O herbicida glifosato é um exemplo de produto seguro e eficiente para controlar plantas daninhas nas plantações. Se não forem devidamente controladas, esse tipo de planta reduz a produtividade de produções como soja, milho e algodão, pois competem com essas plantações por luz, água e nutrientes do solo.
“Não há o que temer. É um produto importante e ambientalmente seguro porque está numa dosagem segura”, diz Natalia. Em geral, o produto, quando aplicado de acordo com as orientações técnicas, traz benefícios para a produção, sem risco para a saúde e o meio ambiente. Para se ter uma ideia, ela explica que, no corpo humano, a meia vida do glifosato dura cerca de 3 dias. Esse é o tempo para que metade do produto seja degradado. No solo, o agroquímico demora mais pra ser degradado, mas não tem mobilidade, ou seja, tem baixo risco de contaminar lençóis freáticos. A meia vida do glifosato no solo é em média 47 dias, sendo degradado pela ação de bactérias de solo.
Seu potencial de causar câncer numa pessoa é até menor se comparado ao de uma xícara de café ou de uma barra de chocolate. No caso do café, uma pessoa precisaria tomar 50 litros da bebida por dia, todos os dias do ano, para ter uma mínima chance de desenvolver um câncer.
Segundo a pesquisadora, uma associação científica americana acompanhou, ao longo de 20 anos, cerca de 40 mil trabalhadores rurais, que lidavam diretamente com o glifosato (confira este estudo – o link é de uma página em inglês). “Não houve indício que relacionasse o glifosato ao câncer”, afirma Natália. Diferentemente do tabaco, por exemplo. Cerca de 90% das pessoas que morriam de câncer de pulmão nos Estados Unidos eram fumantes. “Se o glifosato fosse tão perigoso, um porcentual como esse seria também verificado na pesquisa.”
Tudo é uma questão da dose. A luz do Sol, por exemplo, na dose certa pode fazer bem à saúde. Em excesso pode até matar. Medicamentos administrados corretamente levam à cura de doenças, mas em doses erradas levam ao risco da morte.
No Brasil, os agricultores devem seguir a orientação da dosagem para cada tipo de defensivo químico ou biológico. Isso vai garantir a produtividade dos alimentos que chegam à mesa do consumidor. Por isso, o glifosato está muito longe de ser considerado um veneno, pois o produtor tem investido em aplicações cada vez mais seguras. Um tratamento fitossanitário custa caro, por isso dificilmente alguém será envenenado por uma maçã – só em conto de fadas, mesmo.