“O agro não parou e a poluição diminuiu no mundo inteiro”, diz Camila Telles
Produtora rural e influenciadora digital do agro fala sobre os desafios da comunicação e participação da mulher e dos jovens no agro brasileiro
A pandemia do novo coronavírus impôs a realidade do isolamento social no mundo inteiro, como uma das formas para frear o avanço da Covid-19. Um dos principais efeitos foi a diminuição da poluição em vários países. “A gente está podendo mostrar o que não seria possível”, diz a produtora rural Camila Telles, de Cruz Alta (RS). “O agro não parou e nenhuma vaquinha parou de ruminar e gerar tanto leite quanto carne, e a poluição diminuiu no mundo inteiro.”
Formada em Relações Públicas, Camila é uma das principais influenciadoras digitais do agro brasileiro. Há alguns dias, ela fez um post em suas redes sociais sobre a diminuição da poluição em grandes cidades, ao redor do mundo. O problema da poluição era sempre depositado na conta do agro, por conta da atividade pecuária.
Para ela, o fato foi uma oportunidade única para mostrar que a poluição não é responsabilidade única e exclusiva do agro, mas com a própria atividade desenfreada das pessoas. “Fica claro que o agro não é culpado de tudo e as pessoas estão começando a perceber isso.” Desmistificar o agro, especialmente para o público jovem, tem sido o trabalho de Camila, nas redes sociais como o Instagram e o YouTube.
Para falar mais sobre esse trabalho, Camila foi a entrevistada na live do AgroSaber de domingo (26). Além dela, o encontro teve a participação de Geni Schenkel, fundadora do Agroligadas, de Cuiabá (MT), a agrônoma Carina Marcondes, fundadora do grupo Mulheres do Agro, de Campo Grande (MS), Janaína Flor, economista, pecuarista e gestora do Confinamento Califórnia, em Goiânia (GO).
A conversa, conduzida pelo agrônomo Xico Graziano, professor de MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pela jornalista Claudia Fontoura, editora do Agrosaber, abordou temas como a comunicação, a educação e o poder feminino no agro brasileiro. “A gente luta e defende um agro responsável e que anda de mãos dadas com a sustentabilidade”, afirmou Camila.
Agro desde criança
Camila ganhou notoriedade após postar um vídeo em suas redes sociais, em agosto no ano passado. A mensagem era uma paródia da versão da música de Anitta.
“Por que eu fiz uma paródia com a música da Anitta? Porque a Anitta é a mulher mais seguida no Instragram do Brasil, ela é a nossa referência de mulher digital no Brasil”, explica. “O que a Anitta fala do agro? Ela fala mal. Aí são mais de 45 milhões de seguidores nacionais e internacionais que pegam aquele discurso dela e tomam como verdade.”
O trabalho da produtora é justamente mostrar o outro lado do agro: um setor que é produtivo, sustentável e uma locomotiva para a economia brasileira, além de ser a origem do abastecimento de todo o País. Atualmente, Camila tem sido uma figura bastante requisitada em palestras, para mostrar o poder do jovem no agro. “As pessoas entendem a importância do agro e sabem sua importância para que possamos nos alimentar”, diz. No entanto numa era digital, onde há muita desinformação, muitos acabam se influenciando pela opinião não científica ou técnica de artistas e personalidades, que repetem informações não necessariamente verdadeiras.
Camila lembra que desde pequena já levantava a bandeira do campo. “Meu pai me lembrou de uma ação que fiz quando tinha cerca de sete a dez anos”, diz. “Levei grãos de soja transgênica para a sala de aula e comecei a comer”, conta. “Dizia a todos: olha aqui gente, não faz mal. Naquela época, pessoas falam muito mal dos transgênicos.”
Educação
Um dos grandes desafios é fazer com que o agro seja bem recebido, ainda nas escolas. Camila descreveu uma palestra que fez a um grupo de cerca de 200 estudantes do ensino médio da rede pública. A experiência não foi a das mais amigáveis. “O primeiro slide que eu coloquei foi ‘o agro é tudo’. Quando essa mensagem apareceu no telão, as professoras pediram para os alunos se levantarem e se retirarem do auditório. De 150 a 200 estudantes, ficaram 20. Foi uma das coisas mais frustrantes desde que eu passei a palestrar.”
Mas nem sempre a luta na defesa do agro é inglória. Pode trazer grandes frutos, como contou Geni, fundadora do Agroligadas. Ao ajudar a filha com o dever de casa, sobre a história da citricultura brasileira, percebeu que o livro didático da escola, além de estar desatualizado, trazia muito conteúdo que nem refletia a realidade do setor.
“De imediato fui até a escola conversei com a diretora”, diz Geni. “A gente montou uma palestra com dados atuais da citricultura. Esse material não só foi apresentado à professora de História, mas a todos os demais professores da escola. Indicamos até o portal do AgroSaber para usar como conteúdo associado aos livros. A receptividade foi boa e abriu espaço para tratar de mais temas do agro na escola.”
Ter o agro bem presente nas escolas também é uma das preocupações da empresária Janaína Flor, de Goiânia (GO). “A gente está vivendo uma era em que as pessoas passam a acreditar numa formadores de opinião não especialistas”, diz. “Precisamos atuar fortemente, se preocupando com essas crianças para que elas possam buscar informação de qualidade.”
Liderança feminina no agro
O grupo de mulheres como o de Camila, Geni, Janaína e Carina vê na figura da Tereza Cristina, a ministra da Agricultura, uma excelente referência. “Foi em palestras dela que me fizeram abrir mais os olhos para os temas de política”, diz a agrônoma Carina, que criou em Campo Grande (MS), do movimento de Mulheres do Agro e que está ganhando cada vez mais relevância.
“Aprendi que é preciso dar sua cara a tapa e falar do agro, porque se você não falar, ninguém vai falar”, diz Carina, do movimento Mulheres do Agro. A agrônoma sul-mato-grossense destaca foi por marcar sua presença e informar bem que moldou a trajetória de Tereza Cristina no mundo político, uma das poucas representantes femininas do campo e que hoje tem uma grande projeção setor.
Para Camila, é justamente um caminho nesse sentido que tem de se mover o grupo de mulheres para representar bem o agro. “É com conteúdo que as mulheres tomam o espaço delas. É isso que eu defendo”, diz Camila. “A ministra é uma injeção de ânimo para nós e está abrindo as portas, no Brasil, principalmente do quesito exportação”. Para a produtora gaúcha, a ministra é um exemplo a ser seguido. “Ela própria é um incentivo para que surjam novas terezas cristinas no Brasil, porque ela nos mostra a importância da política, desempenhando diversas formas de ativismo daquilo que você acredita.”
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