Agro brasileiro poupa área de 6 Franças com ganho de produtividade

Agro brasileiro poupa área de 6 Franças com ganho de produtividade

Recente publicação da Embrapa mostra o efeito poupa-terra na agricultura e pecuária, destacando a sustentabilidade na produção agrícola brasileira

Produzir mais em uma área menor do campo, e, ainda, fazer um maior uso agrícola sobre a área. Parece uma tarefa complicada? Saiba que para os produtores brasileiros, não é não. Segundo a recente publicação da Embrapa, ‘Tecnologias Poupa-Terra 2021’, o ganho de produtividade da agricultura e pecuária foi tão grande nos últimos anos que a expansão maciça da área agrícola não foi necessária. Ou seja, essa economia chamada de efeito poupa-tempo contribui com a preservação de áreas nativas.

O levantamento mostra que no período de 1990 a 2015, o Brasil deixou livres da agricultura ou pecuária cerca de 366 milhões de hectares de terra, quase 43% do território Brasileiro. A agricultura responde pela liberação de 41,4 milhões de hectares, enquanto a pecuária por 324,7 milhões de hectares.

Só para se ter uma ideia, essa área representa 5,7 vezes o território da França. Os dados são do economista José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho, diretor de Programa da Secretaria Executiva do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

No entanto, a publicação lançada este ano em comemoração aos 48 anos da Embrapa, reunindo estudos de diferentes pesquisadores, tenta ir além, calculando o efeito poupa-terra desde a década de 1960 e 1970, com as produções de soja e de bovinos de corte, além de analisar os efeitos com as lavouras de milho, algodão, frutas e café, e a produção de aves e suínos.

“O conteúdo contribui com a desmistificação de equívocos relacionados à sustentabilidade da agropecuária nacional, evidenciando claramente através de informações fidedignas que ela é sustentável e fundamentada em ciência, e que o País seguirá sendo um dos principais atores da agropecuária internacional nas próximas décadas”, diz o pesquisador Samuel Telhado, editor técnico da publicação, junto com o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Guy de Capdeville. Confira os resultados desse trabalho.

Soja

Se fosse mantida a mesma produtividade observada no início do cultivo de soja no Brasil na década de 1960, a área necessária para obter a mesma produção na safra 2019/2020 seria 195% superior à área atual. Nesses termos, o efeito poupa-terra em função do aumento de produtividade de soja desde a década de 1960 foi de, aproximadamente, 71 milhões de hectares.

Milho e algodão

Na safra 2020/2021 de milho, foram cultivados 14,8 milhões de hectares na segunda safra contra 4,3 milhões de hectares na primeira safra (plantio de verão). Ou seja, esses 14,8 milhões de hectares representam área poupada, evitando expansão da fronteira agrícola, com potencial desmatamento. Em relação ao algodão, do total de 1,4 milhões de hectares cultivados na safra 2020/2021, cerca de 1 milhão ocorreu em segunda safra, após a colheita da soja. Assim, apenas com as culturas do milho e do algodão, a poupança de área cultivável pela intensificação da agricultura, na safra 2019/2020, equivaleu a 15,8 milhões de hectares.

Frutas e café

A comparação das produtividades das principais frutas exportadas, obtidas em 1990 e 2018, mostra um aumento geral de 64% da produtividade em volume por hectare, com acréscimos variando entre 11% e 137% nas diferentes cadeias produtivas. Essa elevação da produtividade média representou, em 2018, um efeito poupa-terra de 944,5 mil hectares, o que corresponde a cerca de 30% da área cultivada com fruteiras no País, estimada em cerca de 2,5 milhões de hectares. Já no café, o efeito de economia de terra foi de cerca de 500 mil hectares.

Bovinos de corte

Considerando-se o atual rebanho de bovinos de 213,7 milhões de animais e a taxa de ocupação por animal por área, em 1970 (cerca de 2 bovinos por hectare), o território necessário para o rebanho seria de 418,98 milhões de hectares. No entanto, a atividade ocupa 162,53 milhões de hectares, ou seja, representou uma redução de 256,5 milhões de hectares.

“O número de 256,5 milhões de hectares é composto por 85,7 milhões que foram poupados por meio da terminação intensiva em confinamento e semi-confinamento de bovinos, e 170,8 milhões de hectares pelo uso de pastagens cultivadas”, explica a bióloga Lucimara Chiari, pesquisadora Embrapa Gado de Corte, de Campo Grande (MS).

Outras tecnologias na produção de bovinos também tiveram efeito poupa-terra como a sanidade animal e a integração de sistemas produtivos, como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). O controle de vermes levou a uma poupança de terra de 4,3 milhões de hectares; e o controle de doenças como a brucelose e a tuberculose nos animais, pode ter significado um efeito poupa-terra de 2,06 milhões de hectares. Já a ILPF, pode ter contribuído com a economia de 3,45 milhões de hectares.

Aves e suínos

Os contínuos avanços tecnológicos introduzidos pelas cadeias produtivas de frangos de corte e suínos nas últimas décadas evitaram a demanda por adicionais 2,55 milhões de hectares para a produção de milho e soja no Brasil. Essa área é equivalente aos territórios do Chipre e do Estado norte-americano de Connecticut somados. Também significa 4,6% dos 55,4 milhões de hectares que o milho e a soja ocupam na safra 2020/2021 no Brasil, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

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