Pão não faltará, mas o futuro do alimento é ficar com preço mais salgado
A alta vem justamente em função de grande parte da matéria-prima, o trigo, ser importado. Nesse horizonte também podem ser reajustados os valores de produtos como macarrão, biscoitos e pizzas
Para alguns alimentos, mesmo com todo o avanço tecnológico dos cientistas brasileiros, a realidade ainda é a importação. O trigo está nesse grupo. Por causa da disparada do dólar, acirrada por tempos de incertezas por causa da pandemia do novo coronavírus, a tendência é de o pão ficar mais caro, daqui para a frente. A importação deixou de ser um fardo tão pesado com o avanço da agricultura tropical. Ela tiou o Brasil da condição de importador para exportador de alimentos.
“O abastecimento do mercado interno não está ameaçado”, afirma o embaixador Rubens Barbosa, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo). “Vamos ter trigo para importar e para produzir. Só que esse trigo virá a um preço maior.” A tendência é que todos os alimentos que levam a farinha de trigo fiquem caros, como macarrão, biscoitos e pizzas.
“O abastecimento do mercado interno não está ameaçado. Vamos ter trigo para importar e para produzir. Só que esse trigo virá a um preço maior.”
Rubens Barbosa, da Abitrigo
Com o dólar acima da casa dos R$ 5, o custo subiu e muito. No dia 5 de novembro do ano passado, uma tonelada de trigo era vendida no Estado do Paraná a R$ 823,66 ou US$ 206,38 – os valores foram as cotações mais baixas para o trigo em 2019, segundo o levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), de Piracicaba (SP). Na segunda-feira (30), a mesma saca era vendida a R$ 1.118,60 ou US$ 216,16. A alta em reais foi de 35,8% no período. Já a alta em dólares foi de apenas 4,7%.
Investimento tecnológico
A palavra de ordem para os moinhos é, mais do que nunca, aproveitamento. Segundo Origuela é preciso converter o máximo do grão em farinha. “Isso só se dá com investimento em tecnologia, com máquinas de moagem que aproveitem ao máximo o grão”, explica o executivo Valnei Vargas Origuela, presidente do Sindicato da Indústria do Trigo no Estado de São Paulo (Sindustrigo) e do Moinhos Anaconda, com sede na capital paulista. O maior custo de um saco de farinha de trigo é o próprio grão. Origuela calcula que o cereal corresponda a 70% do custo de produção.
Produção x importação
O consumo médio do trigo no Brasil foi de 11,4 milhões de toneladas, nos últimos seis anos, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Nesse mesmo período, a média do cereal importado foi de 55,7%.
“O trigo nacional, quando não tem problema de safra, atende a qualquer demanda. A pesquisa fez a parte dela, por isso, hoje temos cultivares excelentes para várias aplicações e adaptadas a diversas regiões”, afirma Origuela. “Mas quando há frustração da qualidade, como na safra passada, precisamos nos abastecer de trigo importado.”
A projeção é de uma importação de 7 milhões de toneladas, segundo o relatório mais recente da Conab. A produção nacional de trigo foi de 5,2 milhões de toneladas, 5,0% a menos que a da safra anterior. O maior produtor foi o Rio Grande do Sul seguido pelo Paraná. Eles responderam por 84,1% do trigo brasileiro.
“O trigo nacional, quando não tem problema de safra, atende a qualquer demanda. A pesquisa fez a parte dela, por isso, hoje temos cultivares excelentes para várias aplicações e adaptadas a diversas regiões”
Valnei Vargas Origuela, do Sindustrigo
Mais trigo nacional no futuro?
A Abitrigo encampa uma série de medidas para dar mais competitividade e expressividade ao trigo produzido no Brasil. “A proposta para o governo é de uma política nacional do trigo, para reduzir a nossa dependência do exterior”, diz o embaixador Rubens Barbosa. O pedido está nas mãos da ministra Tereza Cristina.
Apesar da projeção de maior colheita nacional, o País ainda dependerá da importação, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Pensando bem lá na frente, em 2029 é prevista que os produtores brasileiros colham 7,2 milhões de toneladas, 39,5% do que a safra de 2019. A importação nesse mesmo ano é projetada em 7,3 milhões de toneladas.
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