Qual o papel da exportação do campo em épocas de crise?
Representantes do agro brasileiro debatem o momento do setor e os planos para crescer pós-coronavírus
Em épocas de crise econômica, como a provocada pelo impacto do novo coronavírus (omitir – no mundo), qualquer negócio que seja superavitário tem de ser muito comemorado. O agro brasileiro, por exemplo, está fazendo o possível para manter a produção no campo e a distribuição de renda viva. Este foi o tema da entrevista virtual realizada no início da tarde de quinta-feira (7) e que reuniu seis representantes do agro numa live do canais Terraviva e BandNews, que foi retransmitida pelo Agrosaber.
“Nós vamos crescer e ocupar um espaço muito especial pós-coronavírus”, disse Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Turra refere-se ao grande desempenho do agro nas exportações do País, e é o setor que está segurando as pontas da economia.
Além de Turra, participaram do debate Evandro Gussi, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antônio Camardelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), André Nassar, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Bartolomeu Braz, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) e Alexandre Schenkel, presidente do Instituto Pensar Agro (IPA). O programa foi conduzido pelo jornalista Marcello D’Angelo, diretor-executivo do BandNews TV.
Exportações em alta
Enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) apresenta uma queda de 3,76% para este ano, segundo o mais recente relatório do Banco Central, as exportações do agro seguem firmes e crescendo. De janeiro a abril, as vendas ao mercado externo de produtos agrícolas totalizam US$ 67,83 bilhões. O crescimento foi de 17,5% pela média diária nos quatro primeiros meses do ano, em comparação ao mesmo período de 2019. Em todo 2019, foram US$ 96,79 bilhões, o que representou 43,2% de tudo o que o Brasil exportou.
Para Turra, o Brasil chegou onde está por conta de muito trabalho com o relacionamento diplomático com os demais países. “Eu lembro bem 1998, era ministro da Agricultura e naquele ano abrimos a exportação de carne bovina que antes era só vendida cozida e enlatada”, diz. “Hoje é um mercado crescente em toda a Ásia.”
O Brasil é referência mundial por causa do agro. Segundo Alexandre Schenkel, presidente do IPA, um dos grandes exemplos é o do suco de laranja. “O Brasil está com uma das maiores produtividades do mundo, atingindo 1.050 caixas por hectare”, diz Schenkel. “Só para se ter uma ideia, de cada 10 copos de suco de laranja que são consumidos hoje no mundo, sete vieram do Brasil.”
Divisas da soja
Apesar de o suco e as proteínas animais conquistarem cada vez mais espaço mundo afora, é com a soja que o Brasil mais fatura. Nesse primeiro quadrimestre do ano, o crescimento da receita com o grão foi de 29,9%, com US$ 11,7 bilhões. “É importante lembrar que a soja desenvolveu o Centro-Oeste brasileiro e agora está desenvolvendo a região do Matopiba”, diz André Nassar, presidente da Abiove. “Um crescimento como esse gera inúmeros benefícios para a população brasileira para os nossos governos e para o consumidor brasileiro.”
A lavoura é a que tem mais potencial de se expandir com muita sustentabilidade, levando ao crescimento da produção de proteína animal, segundo Bartolomeu Braz, da Aprosoja Brasil. “Temos muitas áreas de pastagens degradadas que vão se transformar em agricultura e pecuária. É um modelo que está funcionando muito bem e que melhora a quantidade de produção de gado e o solo.”
Emprego e renda
Bons negócios internacionais refletem em empregos. A população ocupada no agronegócio brasileiro somou 18,3 milhões em 2019, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), de Piracicaba (SP), ligado à Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiros (Esalq/USP). Esse contingente representa quase 20% dos trabalhadores em todo o País. “Nós podemos citar que depois da porteira o setor de frigoríficos gera 3,3 milhões empregos no Brasil”, diz Antônio Camardelli, da Abiec.
Segundo Turra, muitas agroindústrias estão fazendo o possível para não demitir e inclusive até empregar mais. “Em muitos casos houve contratações”, diz o executivo da ABPA. “É uma contribuição maravilhosa quando o desemprego é a tônica em muitos países.”
O agro é também bom exemplo de melhoria de condições de trabalho, segundo Evandro Gussi, da Única. “Estamos comemorando 10 anos do programa Renovação”, diz. O programa foi implementado para realocar os trabalhadores do corte manual da cana. Hoje esse serviço é praticamente mecanizado em todo o País. “Por esse programa requalificamos 400 mil colaboradores”, diz o executivo da Unica. “Temos muitos casos de cortadores de cana que hoje pilotam máquinas de altíssimo nível tecnológico.”
A cana-de-açúcar é exemplo de uma forte indústria para a distribuição de renda para 1,2 mil cidades em todo o País, municípios onde têm usinas de processamento ou, ao menos, lavouras de cana. “Onde tem uma usina, a renda per capita, ou seja, o quanto cada pessoa ganha na cidade, aumenta US$ 1.000. Onde não tem a usina, mas tem cana plantada, o aumento é que US$ 400 dólares na economia. Isso é dinheiro na mão do cidadão brasileiro. É renda e dignidade.”
O agro continua fazendo a sua parte para promover a economia local e nacional! E o AgroSaber continua atualizando seus leitores sobre os impactos do novo coronavírus no agro brasileiro. E aí gostou da matéria? Você pode: curtir, comentar e compartilhar (os links de suas redes sociais estão logo aí abaixo)